quinta-feira, 24 de setembro de 2009

MEDO DE AVIÃO, EU?

Arlete Aparecida Bellani – 09/09/09

Que bom quando você não é funcionário público, ou de empresa privada! Ser proprietária de uma academia, tem suas vantagens, penso eu e, ainda mais quando você liga o PC e te jogam aquelas promoções incríveis: Voe Azul: Natal em 10 parcelas = R$20,00 por mês. Aff, Maria! É pra lá que vou!
Setembro, final de inverno, no Nordeste sempre é quente. Eu tenho um “pezinho” lá. Minha família é de Recife. Sei que as águas de inverno estão terminando.
Então, ligo para meu marido: “ comprei passagens para Natal, nosso embarque está marcado para as 18h de amanhã e voltaremos na terça, dia 08. Nada mal pegar feriado de Independência com promoção! O pessoal da academia e da oficina de meu marido darão um jeitinho, afinal, é uma semaninha só!
Natal, maravilha! Sol, brisa, cerveja, camarão (uma senhora porção por R$12,00, isso é verdade?), lagosta, marisco e... para quem gosta de frutos do mar? Eu tava feita, não queria mais voltar para casa.
Mas, fazer o quê? Quem vai, volta! E na terça-feira, pela manhã arrumamos as malas. Imagine, uma semana em Natal! Já disse que tenho um pezinho no Nordeste, sou moreninha e, com praia todos os dias, eu estava “neguinha”. – Vou fazer o maior sucesso na academia!
Prontas as malas. Nosso embarque seria às 13h. Ao meio dia já havíamos passado no check in. A partir daí, era só alegria. Três horas de vôo e estaríamos em Congonhas, isto é, às 16h, beleza!
O vôo foi tranqüilo até Minas, depois, só nuvens, tudo negro. Acho que em São Paulo estará chovendo! Como é bom quando saímos de férias! Jornal, não se lê; tevê, não se vê, esquece-se do mundo, é só você, seu companheiro e seu merecido descanso, nem de filhos a gente quer saber... Brincadeirinha!
É, a coisa tá preta! O comandante nos informa que em São Paulo e toda região Sul e Sudeste chove forte.Talvez, não chegássemos no horário previsto. Muitos vôos estão sendo desviados para outros aeroportos, não há visibilidade.
Ai meu Deus! Será que ele está falando a verdade?
Gente, eu não tenho medo de morrer. Mas aquele avião que caiu, faz tão pouco tempo... Ai, cair avião...! Desviar vôo... Chi! Não sobrará ninguém! Olho para meu marido, ele tenta disfarçar seu medo, é lógico, homem tem que dar força nessa hora. Meus olhos denunciavam meu desespero.
- Jorge, o que está acontecendo realmente?
- É só uma chuvinha forte, só isso!
Então, tentei fechar os olhos e fazer umas orações, comecei a me lembrar de meus filhos, minha mãe, o pessoal da academia. E se o avião cair?
Neste momento, ouço novamente aquela voz, todos parecem ter a mesma voz! “ Aqui é o comandante, estamos próximos ao aeroporto de Congonhas, mas, de acordo com as instruções da Torre de Comando, não há teto para pouso, portanto, sobrevoaremos até segunda ordem, se necessário, pousaremos em Vitória, temos combustível para mais 1h.”
O quê? Voltar? Bem, até Vitória deve dar meia hora, quarenta minutos, pensei eu, é só dar meia volta-volver.
Ah! Mas quem disse que isso aconteceu? Ficamos lá em cima como urubus sobrevoando a carniça. Olhei no relógio, já havia se passado meia hora, ele iria para Vitória? O combustível não iria dar... Lá embaixo, tudo negro! Onde estamos? O que vai acontecer conosco? Nós vamos morrer? Agora sim, preciso começar a pedir perdão a todos os meus inimigos, eu quero um lugarzinho bom lá no céu! Será que aquelas meninas da academia vão chorar por mim? Ai que loucura!
Aí, uma senhora no banco da frente perguntou à aeromoça se estávamos sobrevoando o mar, a terra ou a floresta. Ela disse à senhora, para tranqüilizá-la que se caíssemos em água, teríamos coletes salva-vidas.
Pare com isso! Se o avião cair, não vai sobrar nada de ninguém! Será que nem a minha roupa? Como irão velar nossos corpos?
A agonia estava expressa em cada rosto, não havia mais combustível para Vitória. Campinas, quem sabe?
Neste momento, a voz do comandante, inalterada, nos informa para permanecermos com o cinto de segurança, pois havia recebido liberação para pousar.
Nunca me senti tão viva-morta como ontem.
Ao desembarcarmos, nossa filha nos esperava. Contou-nos sobre a tragédia provocada pelo tornado em Santa Catarina, o caos em São Paulo e que demoraríamos mais um pouquinho até chegarmos em casa, a Marginal Tietê estava alagada.

Sobre a autora:


Arlete Aparecida Bellani, nasceu em Santa Bárbara D’Oeste, bem no finalzinho do ano, no penúltimo dia, no ano em que o Brasil ficou campeão mundial de futebol pela primeira vez. E, por coincidência, nascida ao lado do campo do União Barbarense. O seu José, e os tios eram fascinados por futebol. Sendo a última de oito irmãos, quando a mãe pedia para os mais velhos olharem os mais novos, o que se faziam? Levavam para o campo ou o pomar que havia ao lado de casa. Ali a criançada da vizinhança ficava o dia inteiro. Com treze anos ainda brincava na rua: amarelinha, pular corda, queimada, além de cantar no coral da igreja e interpretar alguns papéis em peças cristãs. Sempre adorou crianças. Sua avó dizia que teria uns vinte filhos. “Hoje, sei o que ela queria dizer, pois filho de barriga, só conseguiu um, o Henrique”. A grande benção de sua vida, e depois de dez anos de casada. Aos catorze já estava trabalhando em uma empresa, a única respeitável de sua cidade. Ali permaneceu até se casar, por quase doze anos. Começou como auxiliar de escritório e saiu como secretária. Pra falar a verdade, ela adorava Matemática, mas como era secretária e era muito exigente consigo, foi fazer Letras, para escrever “certinho”. Sempre teve muito medo da tal “redação”. Ai se alguém lhe pedisse um texto, dava dor de barriga. Trabalhar como professora, nem pensar, não era louca. Mas, casada, morando em outra cidade, numa época em que a mulher que se casasse não tinha lugar numa empresa, fazer o quê? Morava perto de uma escola. “Fazer o quê nesta cidade, sem conhecidos, sem trabalho...” Foi ver umas aulinhas, só para não ficar parada. Demorou para descobrir que adorava trabalhar com gente e não papéis. “Adoro acordar e saber que vou entrar numa sala de aula, pois viverei todas as emoções da vida.”
“Não importa se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.”

6 comentários:

  1. Nossa!!Que crônica grande isso que é gostar de escrever.Ficou um espetáculo!!!Adorei!Beijos.Ah!Obrigada das caronas.

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  2. Arlete, parabéns pela sua crônica você misturou humor com coisa séria. Gostei!

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  3. Oi Arlete, medo de avião eu não tenho, sabe como é né? ... Tenho verdadeiro PAVOR....
    Gostei de sua crônica, você conseguiu passar de uma maneira humorada o pânico que é voar, espero que nunca mais eu precise entrar dentro de um.. risos..
    Abraço, Carol.

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  4. O medo de avião é uma coisa relativa, se você está no chão,não a tem, mas se está no avião e pega um período de turbulência, até ateu pede pra Deus ajudar.Parabéns pela crônica.

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  5. Oi,
    Não gosto de avião porque passo muito mal pois tenho labirintite. Nunca tive medo mas ultimamente...estou ficando com pavor.
    Voce escreve muito bem.! Adorei!
    Bjs

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