segunda-feira, 30 de novembro de 2009

É dia de cinema

Luciana Beatriz de Leão

Num fim de semana desses, fui até um hotel cinco estrelas para aproveitar suas maravilhas. Busquei a qualidade de seus serviços, afinal todo mundo merece um dia de cinema.

Era um tal de “o que a senhorita deseja?”, “está servida?”, “quer mais alguma coisa?”. Prato sujo pra lá, prato limpo pra cá, “outro talher senhorita?”. Definitivamente acabei me sentindo a “important person”- desculpe meu inglês.

E os valiosos pratos sofisticados - tinham cada nome - se não conhecesse um pouco do estrangeirismo, literalmente, estava na roça, perdida memo, sô... como diziam meus antepassados. Sem contar as belas sobremesas surreais que ainda me dão água na boca. Hum, que delícia!!!

Depois de viver diferentes sensações e voltar para a rotina, de uma coisa tive certeza: é muito bom ser tratada dignamente, nos faz sentir mais confiantes, otimistas. Uma renovação para enfrentarmos as adversidades da vida, mesmo por uma simples gentileza de um garçom.

No cinema podemos estar todos os dias. Só depende de nós!

Sobre a autora

Luciana Beatriz de Leão,29.
"Passei minha infância no Noroeste Paulista; cursei Letras na FAI - Soler, na cidade de Jales e, atualmente, leciono na rede estadual de ensino, nas escolas: E.E. ProfªSebastiana Paié Rodella, em Americana  e E.E. Profº Antonio Matarazzo, Santa Bárbara d'Oeste."

domingo, 29 de novembro de 2009

A moça do vestido curto

Gisele Adriana Moraes

Dias atrás nos deparamos com mais um acontecimento que para mídia é um “prato cheio” para o sensacionalismo. Na verdade, particularmente, não vejo motivo para tanto, mas como vivemos numa sociedade puritana que se baseia em falso moralismo... Estou me referindo ao caso “Geisy Arruda”, a moça que foi para a faculdade com um vestido curto. A sindicância consoante com o Regimento Interno da faculdade nos termos do artigo 216, parágrafo 5, e do artigo 207, da Constituição Federal, colheu depoimentos de alunos e alunas, professores, funcionários e da estudante envolvida, além de analisar vídeos e imagens divulgadas.

Os fatos:

Foi apurado que a aluna tem frequentado as dependências da unidade em trajes inadequados, indicando uma postura incompatível com o ambiente da universidade, e, apesar de alertada, não modificou seu comportamento. Isso foi o que a faculdade alegou em sua defesa.

Hoje, o Brasil, um país emergente, que vem constantemente evoluindo e tornando-se centro das atenções para outros países, dá importância para uma moça com um vestido curto, num dia comum, na faculdade.

Por que não priorizar a questão da qualidade do ensino no país, melhorar a segurança, o transporte, a saúde, do que se voltar para uma moça de vestido curto na faculdade? Infelizmente, o jornal “vende” mais notícia ruim e tragédias. As revistas, assuntos sobre cosméticos e fórmulas milagrosas de emagrecimento. Vejo que a banalidade caiu no gosto popular .

Será que essa moça está certa de aproveitar seus quinze minutos de fama? Foram os muitos dos que são contra essa postura que a colocaram na mídia. Fazem parte de um povo que ‘compra’ tudo o que está sendo ‘vendido’ pela mídia.

E a sociedade continua com o falso moralismo, em pleno século vinte e um, embora a censura tenha ficado para trás há muito tempo...

Por que não priorizar soluções necessárias para salvar o que resta do nosso planeta ao invés de dar tanto ibope a uma moça de vestido curto, no cotidiano de uma faculdade?

Sobre a autora:

 Gisele Adriana Moraes, 32 anos, natural de Mogi mirim - S.P. É professora de Filosofia e Sociologia. Atualmente, leciona na E.E. Prof. Wilson Camargo, em Americana – SP. É uma pessoa muito determinada, participativa e está sempre em busca de novos horizontes.

Experiência do Absurdo

Assis Henrique Brugnera

Caro leitor, inicio essa crônica relatando a experiência que tive quando me deparei em pensar o absurdo. Então, decidi escrever para dizer um pouco sobre a experiência do absurdo na vida humana que se revelará sendo o sentimento do absurdo.

O sentimento do absurdo é o ponto de partida da reflexão sobre a existência humana que pode ser desencadeada por uma situação extraordinária ou trivial no cotidiano da vida humana, por exemplo, tropeçar em uma calçada com buracos. Mas, o que é o absurdo? É aquilo que faço e não tem um sentido definido para minha vida.

A reflexão sobre a vida, sendo ela interior ou exterior a mim e distanciada de mim, leva ao corte do absurdo.

Se a existência humana determina o sentido para a vida, resta-nos descobrir como seria este “sentido” para melhor viver, a fim de romper com o absurdo, que se dá quando faço algo, mas não dou sentido a isso.

Uma forma para isso seria pensar sobre o sentido da existência, pois como diria Sócrates, “uma vida que não é refletida não é digna de ser vivida”. Ao colocar a racionalidade para refletir sobre a existência, eu corto o absurdo e coloco a questão genérica – “Como isso aconteceu?” – para a minha vida e de quem está ao meu lado. (O que acontecerá comigo, já que isso ocorreu?).

Devemos usar a razão para buscar as justificações que respondam a perguntas angustiantes, de forma coerente e comparativamente, sem cair no subjetivismo.

Sobre a autor:


Graduado em filosofia pela PUC-Campinas, especialista em bioética. Possui vários artigos publicados em revistas científicas. Atualmente é professor de filosofia na rede estadual de ensino.

Olho por olho, dente por dente

Adriana de Jesus Olivatto Garcia

Embora essa expressão tenha sido abominada já na época de Jesus Cristo, os professores da rede pública estadual serão vítimas de suas próprias condutas.

Vou explicar. No final do ano é comum alguns alunos ficarem de recuperação por não terem cumprido bem seus deveres.

A reclamação é geral, pois nada mais estressante e injusto do que algumas horas a mais na escola. E eles dizem: "Ah! Recuperação, provas, trabalhos, nada disso é justo! Tanta coisa pra curtir!"

 E o professor, já fadado de tanto trabalho, tenta unir o útil ao agradável. Elabora atividades mais interessantes, estimula-os com aquela conversa amiga: "Quem faz recuperação tem chance de aprender mais." Ninguém está interessado neste papo. Festas, baladas, encontros são muito mais interessantes.

Enfim, depois de tanto consolar e explicar... e arrancar os últimos cabelos brancos que lhes restam, diz:
- Acreditem, não é nenhuma piada... Nós, professores, também passaremos por uma avaliação neste final de ano. Mas, entre vocês e nós há uma incrível diferença: - não sabemos se seremos aprovados pela progressão continuada ou se teremos nossa carreira encerrada.

Sobre a autora:

"Nasci em 30 de abril de 1973. Sou professora formada em Letras e leciono na cidade Nova Odessa desde 2005. Sou casada, mãe de três filhos lindos e gosto muito de escrever e cantar.

As Cotas?

Maria Conceição Aparecida Leme
Minha Primeira Crônica.

AS COTAS?

Quando comecei a escrever eu não sabia ao certo ainda o que ia sair da minha mente. Lendo algumas crônicas percebi logo que deveria escrever algo sobre denúncia, conscientização, alerta, etc. E, logo, me veio no pensamento o dia 20 de novembro: "DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA".

Nesse mesmo dia, estava eu, no 3º ano do Ensino Médio, dando aula de História. Era um debate sobre as cotas para os negros na faculdade, pois o assunto agora é vestibular, e surgiram vários questionamentos interessantes: "Professora o cérebro dele (do negro) é diferente do dos brancos? O QI dele é menor do que dos brancos?" Um dos alunos perguntou, posicionando-se: "Professora, lutamos para demonstrar que não somos racistas, então, por que o Presidente da República assina uma confissão de que somos, sim, racistas? A partir do momento em que ele concorda com as cotas para os negros na faculdade, está dizendo que eles são diferentes de nós, brancos. E o mais engraçado é que ele era um marmitão (operário que come em marmita na calçada do portão da fábrica) e, hoje, está no mais alto cargo do Brasil."

Em certo momento, fiquei pasma com os comentários, pois as críticas feitas pelos alunos tinham uma certa lógica. Então, falei que concordava com eles, que a idéia de "cor" nos seres humanos, como foi apresentada nesse assunto, nos leva a refletir que devemos estimular nossos jovens a buscar por meio do estudo, e não por cotas, suas realizações profissionais.

Sobre a autora:

Maria Conceição Aparecida Leme. Nasceu na cidade de Barretos-SP. Fez Magistério e graduação em História e Geografia. Foi professora de Educação Infantil. É professora do Ensino Fundamental e Ensino Médio na rede pública do Estado de São Paulo.
Sempre gostou de ler, principalmente livros que se referem à História do passado. Como escritora, este é meu primeiro texto publicado e tenho três paixões na vida: minhas netas, minha profissão e a leitura.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Minha crônica nada cômica

Iraní Rodrigues Bandeira

Nada como levantar de bem com a vida, depois de uma boa noite de sono, pronta para a missão que me foi incumbida: desenvolver um projeto de meio ambiente na escola. Coisinha simples e prática. Unir o útil ao agradável.

Após pesquisa na internet, leitura de revistas e jornais encontrei dentro de uma caixa de livros velhos (o que é comum na casa de uma professora, filha de uma professora...) um manual de práticas de economia de energia elétrica e a partir daí surgiram muitas idéias.

Destacou-me a importância da troca das lâmpadas comuns pelas fluorescentes, economizando no bolso do consumidor e as fontes de energia. Mas se incentivasse a troca das lâmpadas seria correto orientar também sobre o descarte consciente dessas lâmpadas, afinal nelas contém mercúrio, elemento químico prejudicial à saúde e a natureza.

Com apenas alguns telefones e tudo estará resolvido (esse foi meu pensamento... inocente pensamento meu...).

Primeira ligação: Prefeitura.

_Bom dia! Gostaria de falar com o responsável por projetos de meio ambiente. Sobre descarte correto de lâmpadas fluorescentes, sou da escola....

_Desculpe, não temos nenhum projeto desse tipo. Você já ligou na Vigilância Sanitária?

_Tudo bem, obrigado.

Segunda ligação: Vigilância sanitária.

_Boa tarde! Gostaria de falar com o responsável por projetos de meio ambiente, sou da escola....

_Desculpe, não temos nenhum projeto desse tipo. Você já ligou no Meio Ambiente?

_Tudo bem, obrigado.

Terceira ligação: Meio Ambiente.

TUUUUMMMMMMM, TUUUUMMMMMMM, TUUUUMMMMM!!!!!!

Ninguém atende.

No dia seguinte. Quarta ligação: Meio Ambiente.

_Bom dia! Gostaria de falar com o responsável por projetos de meio ambiente, sobre descarte correto de lâmpadas fluorescentes...

_Desculpe. Poderia ligar mais tarde, pois ele não se encontra no momento.

_Tudo bem, obrigado.

Mais tarde... Quinta ligação.

_Boa tarde! O responsável sobre projeto de meio ambiente se encontra?

_Desculpe. Poderia ligar amanhã, pois ele já foi embora.

_Tudo bem, obrigado.

No dia seguinte. Sexta ligação.

_Bom dia! O senhor é o responsável pelo projeto de meio ambiente, mais especificamente sobre descarte correto de lâmpadas fluorescentes?

_Bom dia! Fui infirmado de sua ligação. No momento não temos nenhum projeto ligado a esse assunto. O que posso ajudar é dando palestra. Caso haja interesse, anote o e-mail e agende para o ano que vem. OK?!?

Meu queixo caiu no chão, fiquei perplexa.

Ao chegar a minha escola no dia seguinte meus alunos vieram empolgados perguntar sobre o projeto. Chateada expliquei o ocorrido e o meu desinteresse em continuá-lo.

Para meu espanto, não foi o que aconteceu.

Lápis e papel, os grupos foram se dividindo, cada um com uma função. Uns fizeram cartazes, outros criaram um blog, slides para apresentação. A notícia correu pelos corredores da escola, e foi além, para a comunidade.

Sempre que passava pelos corredores, pela manhã, tarde ou noite, era interrogada sobre o andamento do projeto. Foi divertido, fiquei popular na escola. Pude ver meus alunos trabalhando em equipe, todos os funcionários da escola ajudando. O apoio da direção e coordenação foi fundamental.

Ufa! Concluímos o projeto e estamos recebendo os primeiros frutos. Com a colaboração dos alunos e da comunidade, estamos recebendo as lâmpadas queimadas na escola, esperando um montante de cem lâmpadas para podermos enviar para uma empresa próxima daqui que faz a descontaminação das mesmas.
Estou satisfeita. Agora já posso voltar a ter uma boa noite de sono!

Sobre a autora:

Iraní Rodrigues Bandeira nasceu em Adamantina-SP, em 1972. Graduada em Letras. Atualmente, trabalha na E.E.Dr. João Thienne, em Nova Odessa, como professora de Língua Portuguesa.

A dor da separação

Iraní Rodrigues Bandeira

Inicia-se mais uma semana, como outra qualquer. A correria do trabalho, o cuidado com a família, dia após dia. Apenas um telefonema na madrugada muda todo o curso de nossas vidas.
Nesse telefonema a triste notícia: “nossa mãe faleceu”.
Não tem muito em que pensar, apenas amanhecer o dia, pegar a estrada. Serão quatrocentos e oitenta quilômetros para pensar o que fazer a partir de agora. Um pensamento não me sai da cabeça: agora não tenho mais pai nem mãe.
Após horas intermináveis, até que enfim amanhece o dia para darmos início à nossa viagem. Viagem essa que parecia não ter fim, a pista cada vez mais longa, até o encontro com a família no velório, o carinho e o abraço dos amigos que vem nos consolar, pois a dor da separação é grande. Para minha surpresa o local encontrava-se repleto de pessoas. Algumas conhecidas, outras não.
Encosto-me na urna, como se um filme passasse em minha mente. Entre tantos os momentos que vivemos juntas lembrei-me dos mais alegres, das festas de fim de ano, nossas viagens, das compras no mercado, até mesmo das festas da escola onde ela lecionava, pois sempre que podia ela nos levava.Houve momentos tristes também em nossa caminhada, tribulações, aflições, desentendimentos, mas em nenhum deles eu respondi a ela ou tratei-a mal. Procurei em todos meus pensamentos, em minhas lembranças , mas não encontrei nada que me acusasse, que me trouxesse remorso.Fiz tudo enquanto pude, em vida.Até o mais simples: um beijo.
Por um momento parecia até que ela ainda estava respirando. Tornei a olhar. Foi apenas uma impressão. Nesses últimos anos minha mãe foi acometida por enfermidades. Muito sofreu,mas agora ela estava ali, calma e serena, como se apenas dormisse, como sei que dorme o sono dos justos e, ambas, estávamos ali, juntas pela última vez nesta vida, e em paz.



Sobre a autora:

Iraní R. Bandeira nasceu em Adamantina em 1972, trabalha atualmente na E.E.Dr. João Thienne como professora de Língua Portuguesa.

O acomodado

Madalena Alvarez Cainelli

Sabe aquela pessoa que se levanta no domingo, às 10 horas, toma seu café e senta-se para assistir ao Domingo Espetacular? Fica sentado ou deitado no sofá e dá um berro:
- BEM, TRAZ UMA BOLACHA...
A esposa, com toda a educação que tem, leva a bolacha, dá-lhe um beijo e volta aos afazeres domésticos...
Menos de cinco minutos depois...
- BEM, TRAZ UM CAFÉ...
Lá vai a esposa novamente e faz o mesmo ritual.
Finalmente, o almoço está pronto. A dedicada esposa o chama para almoçar.
Logo após o almoço, ela pede ajuda para arrumar a cozinha. Ele, por sua vez, fala que não pode, devido ao fato de ter comido demais.
Aí o bicho pegou...
- Você nunca faz nada!!! Éum acomodado! Fica aí deitado, só engordando! Eu lavo, passo cozinho. Não dá... Assim não dá!!!
- Calma, acho que o almoço não me caiu bem...
- O que não me cai bem é esse seu comodismo. Tenho que trabalhar dois períodos fora, e um período em casa e no final de semana, não tenho ajuda, nem sossego!!!
- Calma, benzinho! Vá para a sala, assista ao filme do Sherek, e não se incomode que eu lavo a louça.
A esposa vai para a sala, respira fundo e pensa: “só assim que eu tenho folga”.
Depois da grande discussão a esposa se acalma. Eles fazem as pazes e vão para..., ops! Não posso escrever o que aconteceu depois...

 Sobre a autora:

"Tenho 34 anos, sou casada e exerço a linda profissão de Educadora. Graduada em Ciências Biológicas pela UNIMEP. Faço o que gosto, pois sou a favor de que o trabalho deve ser um prazer. Comecei este ano a escrever, não sou da área de Linguagens, mas estou gostando desse novo desafio. Convido todos a tentar escrever, vejo que é muito gostoso imaginar."



TEMPO X TECNOLOGIA

Edgar Lopes da Silva

Que bobagem! O tempo! Ah! O tempo, insignificante... Quem dá importância ao tempo?
É interessante como não esquecemos nossas emoções, ações. Aquelas que ficaram presas em nosso DISCO RÍGIDO e não queremos conectá-las para não revivê-las. Para não nos encher de emoções e fantasias, confrontar com essa realidade muitas vezes fria com o virtual.
Esse tempo retorna com a velocidade de gigabites, e nos faz recordar tudo, tudo mesmo. E tudo vem à tona, rasgando no interior de nossas entranhas esse sentimento que o tempo não conseguiu deletar.
Percebi que passaram pessoas, amigos, colegas, endereços, amores, E-mails. Ficamos mais velhos, mais caretas, obsoletos. Algumas coisas se desconectam. Pelos brancos aparecem no corpo. E o tempo onde está?
O que eu não esperava é que viria, depois de tanto tempo, acrescentar não só uma vírgula, mas um monte de sentimentos e emoções neste tempo que, para mim, já estava perdido entre os fios na minha memória RAM, trancado no meu íntimo.
Bastou um belo par de olhos passar por mim, como se uma Web Cam estivesse a me espionar e, por mais que desviasse o meu olhar, este me consumia como dois raios brilhantes a tocar meu coração. Não compreendi, mas senti aquele olhar fazer cócegas em meu ego. Estava feliz e não reconheci que aquela pessoa havia feito parte do meu passado de um “tempo”... E que tempo!
Não foi uma ou duas passadas e flertadas, foram vários SPAMs, até que a pessoa se aproximou dizendo que já me conhecia. De surpresa, recordei! Busquei no meu disco rígido os recados gravados há tempos, os torpedos, os pequenos trechos de músicas apaixonadas, enviadas por POWERPOINT, frases de célebres autores e poetas, ligações noturnas que me fizeram dormir. De tão bom, salvei tudo. Jamais pensei em abri-las novamente. No momento, não resisti, não medi consequências. Deixei-me ser violado, como que por um vírus, um haker que ataca sem precedentes. O desejo estava ali novamente, daquele que um dia me fez feliz.
O tempo presente, o agora, nos faz desabrochar um desejo novo, como um novo programa. Ao mesmo tempo, diante de algo que não se concluiu (ao longo do tempo), percebi a chama dos olhos e ambos eram correspondidos. Não vacilamos. Nos tornamos ridículos, infantis, diante da fragilidade do sentimento e da emoção.
Só que não havíamos percebido, onde estávamos muitas coisas eram proibidas, como um mouse na mão de uma criança curiosa. Não queríamos perder tempo e, naquele momento, estávamos novamente à mercê dos olhos a nos fitar, curiosamente...
Fomos punidos. Mais uma vez, interrompidos de concluir algo tão belo, tão bonito e de ter a certeza de que não vou fechar a minha caixa de diálogo novamente, sem telefone, sem endereço, sem e-mails, sem recordar nomes. Simplesmente, ficamos ao sabor do amor, da saudade que o tempo não apagou e da certeza daquele olhar que era o elo para o grande final, que não houve.
O instante corre no tempo com a velocidade dos gigabites e parece que dura uma eternidade. Quanto à emoção, os sentimentos ficam presos na CPU da nossa imaginação, para serem clicados a qualquer momento.
O que sei agora é que “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.

Americana, 23/11/2009
Sobre o autor:

Edgar Lopes da Silva é Professor de Língua Portuguesa na E.E. Monsenhor Henrique Nicopelli - Escola de Tempo Integral -  em Santa Bábara d'Oeste - SP, atuando em classes regulares e na Oficina Curricular 'Hora da Leitura'. Participou de vários projetos realizados na U.E., como: mostras culturais e saraus literários, unindo duas de suas paixões: a literatura e o teatro, diversificando gêneros e temáticas, contando sempre com o envolvimento e interesse dos alunos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Para melhorar o atendimento é só aumentar o salário?

Sandra A. L. Camargo

É incrível! Após a notícia de que um posto médico, de um bairro da cidade, esteve sem atendimento por falta de médicos plantonistas, em tão pouco tempo, o prefeito da cidade tenta sanar o problema, aumentando o valor do salário dos médicos em questão.

Há tanto por fazer para melhorar. Tantos pais de família, servidores municipais que esperam por uma gratificação; por um salário mais justo, para dar uma vida mais digna à família e, mesmo assim, o problema da saúde do município se embasa somente no fato de que os médicos são mal remunerados.

E os pobres garis, os coletores de lixo, as merendeiras, os cargos mais humildes, será que eles estão ganhando tão bem assim?

Tanta desigualdade, que chega a ser cômica a situação. Se os mais humildes fizerem qualquer movimento, simplesmente retornarão com uma promessa de aumento de, no máximo, R$100,00 reais e uma gratificação tão insignificante, que chega a ser vergonhoso o teor dessa notícia: um médico precisa de um salário de R$ 10 mil, enquanto um gari pode ganhar R$ 400 reais.

Há, mas esqueci! Um médico lida com vidas humanas e um gari lida com o lixo gerado pelos seres humanos! Eis aqui uma boa justificativa, não?!?

Quando será que as pessoas irão parar de olhar para o seu próprio umbigo e pensar em fazer algo de bom para quem necessita? Para quem também precisa ser valorizado, hoje em dia, neste mundo em decadência, que está com os dias contados e com o destino traçado... O seu final? Será um amontoado de lixo, inútil!

Crônica escrita com base na notícia: "Plantonista terá salário de até R$ 10 mil em Americana", publicada no jornal ‘O liberal’ de 21/11/2009,  escrita pela jornalista Aline Macário.

Sobre a autora:



Sandra A.L. Camargo- nascida em Americana, em 23/06/58, cursou magistério na EE Dr Heitor Penteado. Atualmente, está readaptada, na mesma escola. “Sinto muita falta da sala de aula, onde me sentia realizada”.

Um mundo sem volta?

Andréa de Cássia Vieira Ferreira

Um dia comum, como os outros. Sento-me no sofá e ligo a televisão para um momento de descontração, juntamente com a família. Assim que aparece a primeira reportagem do telejornal, mais um fato trágico é apresentado. Não me espantei, pois, diariamente, reportagens trágicas são mostradas. Incrível! Às vezes, acho que a violência está banalizada!

O que me chamou a atenção foi o depoimento de um pai que não se espantou com o fato de o filho ter assassinado a namorada. Esse pai disse que todos os dias, ao ouvir o toque do telefone, já ouvia a sirene da polícia simultaneamente, porque o filho só lhe trazia desgostos. E, assim, aconteceu .O filho acabou de matar a namorada, noticiou o jornal.

O afeto, o carinho, a tentativa de trazer uma pessoa de volta ao mundo real, fez com que mais uma vida fosse tirada de forma tão brutal. Às vezes fico pensando se todo esse trabalho vale a pena.

Outro fato que me chamou atenção foi o depoimento da mãe de Joãozinho. A mãe chegou em casa e perguntou ao garoto:

- Filho cadê o televisor que comprei ontem?

-Virou pó, mamãe.

-E o rádio que estava perto do quarto?

-Também virou pó, mamãe.

-Tudo nessa casa vira pó! Onde vamos parar?

A mãe resolveu enjaular o filho para que nada mais na casa virasse pó, naquela casa. E, assim, o fez.

Preparou com todo carinho uma jaula para prender o filho na tentativa de livrá-lo desse mundo, muitas vezes sem volta. Mas, o enjaulado escapou e ainda ameaçou denunciar a própria mãe.

Perturbada, desligo o aparelho. Vou para a cama. O sono demora, pois a televisão continua ligada.Tentando me desligar, pergunto:

-Por que tantas leis são feitas, mas nenhuma ajuda o pai ou a mãe de um viciado a encontrar um caminho que mude o mote do telejornal?

Sobre a autora:

Andréa de Cássia Vieira Ferreira, nascida em Fernandópolis - SP, casada, mãe de dois filhos, professora de Língua Portuguesa, leciona desde 1996 e atualmente trabalha na Escola Brocatto em Santa Bárbara D’Oeste-SP.

“Digno de admiração é aquele que, tendo tropeçado ao dar o primeiro passo, levanta-se e segue em frente”.



Seca pimenteira. Eu?

 Maria de Lourdes Angelo

Esta mania de falar muito e observar pouco tem contribuído para que eu, uma mulher, supostamente, antenada, tenha passado por alguns micos de tamanhos gigantescos.

Por outro lado, ninguém tem culpa se as coisas mudam, assim, de uma hora para outra, como o ciclo das estações, o efeito radiativo e as alterações climáticas.Tudo muda ultimamente. Nada mais é estável, nem os ciclos biológicos, nem os sociais e muito menos os de valores comportamentais.

Como toda mulher apaixonada sempre procura encontrar um jeito de incutir na cabeça de seu par as inumeráveis razões e porquês de uma relação duradoura ser vantajosa. E, mesmo vivendo neste mar de instabilidades, a mulher não perde a ocasião de citar exemplos e apontar casos belíssimos de amores eternos entre casais.

É claro que ninguém vai colocar ênfase nos romances desastrosos como os da Lady Diana e o Príncipe Charles, Marta e Eduardo Suplicy, Xuxa e Luciano Zaffir. O que a gente quer é mostrar os casais que deram certo. Exemplos de perenidade, virtude e dedicação mútua.

-“Olha eu conheço um casal maravilhoso. Ele, um moço maduro, respeitável, inteligentíssimo, assumiu o romance com ela, e a acolheu com os filhos, vivem uma vida linda, harmoniosa. Passeiam, se divertem, cuidam um do outro. Um belo exemplo de que uma segunda união pode dar certo sim.”

Ocorre, porém, que já fazia algum tempo que eu não via esse casal de amigos a quem eu me referia, e não sabia que as mudanças do mundo também chegaram até eles. E, por coincidência, assim que chegamos ao Shopping, lá estava ela e as crianças.

-“Olha lá, lembra-se daquele casal ao qual eu me referi há poucos dias? Aquela colega de trabalho, sobre a qual comentei da bonita união, entre ela e um rapaz. Pois então, ela é a esposa. Vamos cumprimentá-la?

Aproximamos-nos e eu, como sempre a cumprimentei e perguntei sobre ele.

“Olá, Maria, tudo bem? E o João, como tem passado?

“Eu estou bem – disse-me ela – quanto a ele, não sei, pois faz algum tempo que não o vejo. Nós nos separamos no último verão.

Na hora fiquei sem saber o que dizer. Olhei para meu namorado e ele olhou para mim e não disse nada, mas lá no fundo estava escrita a frase que mais tarde e por muitos dias ele diria: “seca pimenteira”.

E assim fui taxada de “Seca Pimenteira” injustamente, pois cada vez que faço um comentário elogioso a respeito da boa convivência entre determinados casais, há um olhar de cumplicidade entre nós, e logo depois vem a frase “Seca Pimenteira”...


Sobre a autora:

"Nasci em 22 de abril de 1965, na pequena Brasitânia – distrito de Fernandópolis, SP. Iniciei e conclui meus estudos primários e secundários em escolas públicas. Graduei-me em Letras, na Fundação Educacional de Votuporanga-SP., e em Lingüística na UNESP de São José do Rio Preto-SP.
Iniciei a carreira de professora na rede pública no ano de 1.998, lecionei em várias escolas, e, cada uma delas ensinou-me alguma coisa de útil.
Atualmente, leciono na E.E.Maria José Margato Brocatto, em Santa Bárbara d’ Oeste-SP."



Voo do Sonho

Rosangela Aparecida Cassela

Joãozinho era um menino muito bonzinho, tinha uma imaginação muito fértil, qualquer brinquedo virava uma aventura em suas mãos. No seu aniversário de oito anos, Joãozinho ganhou de presente um helicóptero e logo começou a brincar, imaginou estar sobrevoando as praias do Rio de Janeiro. Era um dos seus sonhos. Lá de cima, ele avistava as lindas mulheres tomando banho de sol. Quis, também, conhecer outros pontos turísticos do Rio: o Pão de Açúcar, O Corcovado, a Baia de Guanabara. Joãozinho se deliciava, vendo a Cidade Maravilhosa lá das alturas. Mal podia esperar o momento de voltar para casa e contar tudo sobre o passeio aos seus queridos pais.
Mas, Joãozinho ficou curioso em saber como eram as favelas e morros do Rio de Janeiro, e foi até lá. Ao sobrevoar os morros, aquele menino inocente, não gostou do que viu: certos garotos usando e traficando drogas, meninas se prostituindo. Pensou nas mães dessas crianças. Como deveriam sofrer ao ver seus filhos nesta situação, pois ele sabia que era um bom filho.
De repente, perdido em seus pensamentos, Joãozinho foi atacado por traficantes. O Morro era controlado pelo Comando Vermelho, um grupo de rebeldes revoltados e destruidor de gente inocente que, sem piedade, atirava em seu lindo helicóptero. Confundiram-no com o da Polícia Militar. Joãozinho tentou fugir, mas foi inútil, as balas atingiram o motor causando uma pane. Isso fez com que seu helicóptero se incendiasse e desgovernado caiu ao chão.
Desde então, o Morro continua recebendo a ação policial que não descansa enquanto não encontrar o responsável pelo acidente com o helicóptero de Joãozinho. Ele ficou desolado por não concluir seu passeio turístico, pois pretendia ainda ver o desfile das Escolas de Samba, na Marquês de Sapucaí.

Crônica baseada na notícia do jornal: “RIO TEVE QUEDA DE HELICOPTERO E 39 MORTOS”, publicada na Folha de São Paulo” de 25 de outubro de 2009 – Caderno 2 -


Sobre a autora:             

 "Nasci na cidade de Americana. Na adolescência, trabalhei em Empresas, depois fui secretária na área da saúde e atualmente sou professora. Amo alfabetizar. Para mim, é uma delícia trabalhar com o 1º ano do Ensino Fundamental. É gratificante observar os avanços na aprendizagem, o desenvolvimento das habilidades. Sou uma professora que está sempre buscando conhecimentos, participando de cursos, ou seja, aberta à mudanças desde que sejam em benefício do nosso público alvo: o aluno."

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Crônica Interpretada - Turma B-3

Crônica: "Ao Respeitável Público" de Rubem Braga

Interpretada por Sérgio Itamar Peres Marques - Professor Coordenador da E.E. Profª Jadyr Guimarães Castro - Santa Bárbara d’Oeste - Cursista da Turma C-1 - ‘A Crônica na Vida do Professor e na Sala de Aula’.

Fonte: Vídeo – Crônica Interpretada - 1º Lugar - II Festival de Teatro da Bienal Rubem Braga http://www.listal.com/video/5475529




Mais uma vez, PARABÉNS, Sérgio!
Agradecemos a sua participação e colaboração por enriquecer e abrilhantar mais um de nossos encontros do curso 'A Crônica na Vida do Professor e na Sala de Aula', desta vez, para a Turma B-3, período da tarde.

domingo, 15 de novembro de 2009

Ah, ninhos de passarinhos!

          Num diálogo cotidianamente informal, mãe e filho se cruzam na saída do banheiro:
          -Cê tá acabada hein?
          -É, já fui como sua namoradinha, veremos quando ela chegar a minha idade, como estará.
          O espelho no final do corredor pareceu aumentar a silhueta e acentuar o já visível bigode chinês. E os cabelos então? Se abaixasse um pouco mais deixaria à mostra a linha divisória da idade, ao centro do repartido do cabelo – o real, nas laterais – a idade desejada. E os seios? Bem esses há muito tinham deixado a firmeza de melões maduros e suculentos.
         Abre-se então os parênteses e como num flash back, as imagens surgem na tela do espelho, como num filme hollywoodiano; os seios de Sophia Loren, as pernas de Marylin Monroe e o rosto, é claro era o seu, há trinta anos. Imaginava-se em cena a contracenar com Giuliano Gema ou seria Alain Delon ? Bem, tanto faz, estava sensualmente vestida num twin set de “banlon” que faziam na época, o que a lycra faz hoje, nos ajustes, segunda pele. As cinturas elásticas e largas, afinando a cintura, como um mini espartilho – cintura fina, cintura de pilão, deixando ainda mais proeminentes os seios eretos e piramidais, estruturados por soutiens costurados com penses em caracóis que seguravam os bojos, os famosos “ninhos de passarinho”, produto artesanal, feito sob medida, bem diferente dos p, m, g, e gg das próteses siliconadas vendidas a granel, que nem sempre agradam as compradoras.
       É bem verdade que as formas arredondadas estavam mais na moda e nas rodinhas e nos chás beneficentes, o chique mesmo eram os comentários das amigas; “quantos ml têm o seu? É pera ou é gota?” “Com quem você fez?” “Quantos dólares?”.
        Estava assim a conjecturar diante do espelho quando o barulho do portão eletrônico a tirou de seus devaneios. Era ele... Viria com flores e bombons? Entraria pela porta e a mediria com um olhar de quem quer tomá-la nua instantaneamente e arrebatá-la nos braços?
       Ouviu seus passos na escada, sentiu seu coração acelerar, a garganta chegou a raspar, as pupilas dilataram, os lábios inferiores comprimidos... Já enxergava sua silhueta na porta, sentia sua aproximação, seu perfume, ela buscou seu olhar... Então, lhe ouviu a voz: “-Olá querida, tudo bem?” Sem nem sequer dirigir-lhe o olhar, “- estou tão cansado hoje, vou tomar um banho e vou para a cama”. E antes mesmo que ela respondesse, ouviu o barulho do trinco da porta do banheiro e em seguida a água do chuveiro a cair.
        Olhou pela janela, as luzes da rua já estavam acesas. Fim dos sonhos, num toque dos dedos acendeu as luzes, recolheu as roupas sujas que ele deixara jogadas no chão do quarto e dirigiu-se à lavanderia, passando pela cozinha lembrou que ainda precisava preparar o jantar.

Autoras:
Anna Tereza Rojas M. A. Gouvea – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Wilson Camargo - SBO
Carmen Cecília Cecília Groth – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Prof. Ulisses de Oliveira Valente – SBO

Cursistas: Turma B-3

Carnaval fora de época

- Você ficou sabendo da ultima?
- O que?
- Lula foi às lágrimas e Copacabana à festa.
- Por quê?
- Ora, o Brasil é sede das Olimpíadas de 2016.
- Onde?
- No Rio de Janeiro.
- Mas, e nossas casas, seremos desalojados?
- Não, irão usar a mesma estrutura do Pan.
- Quando digo desalojados, quero me referir ao que aconteceu no Pan. Ficamos ilhados, quase sem poder sair de casa.
- Ah! É mesmo. Ficamos de fora, acuados para demonstrar que o Rio de Janeiro é aquele que a televisão apresenta.
- A violência é encoberta, mas tem uma coisa boa.
- O quê?
- Veremos gente bonita, atletas e até os traficantes ficarão bonzinhos...
- O que foi?
- Estou perdida nos pensamentos, imaginando, fogos em Copacabana, Carnaval de inverno, trios elétricos, gringos por todos os lados, dinheiro rolando nas mãos dos camelôs, dá até para “descolar” um emprego, uma graninha extra...
- É isso aí, devemos curtir a alegria momentânea, pois no dia-a-dia é só tristeza e indignação.

Crônica elaborada com base em notícia publicada no Jornal Folha de São Paulo de 02/10/2009 - "Rio de Janeiro vence eleição e será sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Quer saber mais? Clique no título da Crônica.


Autoras:
Irani R. Bandeira – Professora de Língua Portuguesa
Madalena A Cainelli – Professora de Ciências e Biologia
Ambas atuam na E.E. Dr João Thienne em Nova Odessa – SP.

Cursistas Turma B-3

Entrou água

          Abri a porta do corredor e me deparei com o quintal alagado. Alguém deixou a torneira aberta, pensei, quando cheguei até a dita cuja, constatei que nunca esteve tão fechada. Aliás, parecia que nunca fora aberta. Mas de onde veio tanta água, caramba!
          Bem, se não é de fora, é de dentro, concluí brilhantemente.
          Abri a cozinha, rezando para entrar a pé enxuto, e a reza funcionou, a cozinha estava sequinha e brilhando. Estranho... Quando eu saí havia deixado a casa cheia de pó.
          Mas daí nasceu um outro enigma – eu que nem tinha desvendado o primeiro - quem teria limpado a casa?
          Meu marido, homem bom, trabalhador, honesto, dedicadíssimo, cumpridor de seus deveres. O problema é que limpar a casa não era um dever dele, ah, ele é um homem machista, logo, acha que serviço de casa não é coisa para homem.
         Não, não poderia ser ele que havia feito aquilo. Deixei-o dormindo para correr ao mercado comprar carne para o almoço. Esta certo que me atrasei um pouco, passei em uma loja de sapato, só para olhar as vitrines... não comprei nada, estava com pressa.
         Quando cheguei em casa, meu marido já havia saído para o trabalho e sem almoço. Ele não limparia a cozinha antes de sair, disso, tenho certeza.
         Indignada, deixo a carne na pia e vou para o quarto... Entrou ladrão em casa? Cadê a torneira da pia? Certamente foram aqueles pivetes, vão trocar por drogas...mundo perdido!
         Toca o telefone. E se for um bandido? Com essa onda de violência....! Melhor não atender...
         Fiquei de pernas atadas, não sei se era medo, desconfio que fosse sim... depois de tantos disparos o telefone parou.
         Bem, agora vou trocar-me, secar o quintal e seja o que Deus quiser!
        Quando o medo já estava descendo pelo ralo, o telefone toca novamente. Atendi. Era meu marido.
        Querida, a torneira da pia quebrou e alagou a cozinha. Não consegui fechá-la. Então, fechei o registro de fora, já era tarde, a casa estava toda alagada. Puxei a água para fora e deixei tudo assim, pois eu estava atrasado para o trabalho.

Autoras:
Maria de Lourdes Angelo –
Andréa de Cássia V. Ferreira -
Ambas são professoras de Língua Portuguesa na E.E. Maria José Margato Brocatto em Santa Bárbara d’Oeste - SP

Cursistas: Turma B-3

Helena (Na Vida Real)

          Helena levanta às quatro horas da manhã para pegar o ônibus das seis.
          -Pra que levantar tão cedo mulher? Tem sempre alguém que pergunta. É que ela tem que deixar o café e o almoço pronto para os quatro filhos que ficarão em casa cuidando uns dos outros. Depois vai correndo para o ponto do ônibus, entra em um coletivo que mais parece uma lata de sardinha e tem que suportar as pisadas nos calos doloridos e alguns espertinhos que aproveitam do aperto e o sacolejar do ônibus para uma esbarrada maliciosa. Na volta é tudo igual, ônibus cheio, pisadela nos pés cansados, rapazes mal intencionados, mas com um agravante: o banho e o desodorante da maioria dos ocupantes já estão vencidos.
           Essa é a vida de muitas Helenas, Marias, Clarices... Boa parte da população pobre e feminina tem jornada tripla. Trabalham antes de ir para o trabalho e depois que chegam do trabalho.
          Após um longo dia de luta Helena chega em casa e ainda tem que lavar, passar, cozinhar..., mas quando termina o jornal ela quer silêncio, pois vai começar a novela.
          Em todos os lares há aparelhos, aparelhinhos ou aparelhões. Dependendo do poder aquisitivo do cidadão, há vários espalhados pelos cômodos da casa, e no entorno dele o silêncio é a palavra de ordem, principalmente no horário nobre, quando as donas de casa, já exaustas, não têm mais forças para lutar.
         Assim acontece com Helena, para repor as energias faz um prato repleto com arroz e feijão e corre para frente da TV, essa caixa mágica que nos apresenta várias histórias e, em uma delas, Helena se faz modelo na trama de Manoel Carlos, e o prato principal é o luxo e a beleza, ambientes confortáveis e requintados, viagens para Europa, bem diferente da historia de vida da nossa Helena que, com certeza, não se vê representada na história, aliás, as novelas representam uma pequena camada da população que pode ir às compras em Paris.
         Depois da novela, Helena desliga seu pequeno aparelho de 14 polegadas, vai para o único quarto da casa onde dorme com os filhos, começa a pensar como a vida na TV é mais fácil, pois os problemas se resolvem em mais ou menos oito meses, lembra-se do seu ex-companheiro que a abandonou com quatro filhos para criar, observa os pequenos dormindo em meio aos lençóis e cobertores velhos, os pijamas são roupinhas velhas, que não dá mais para sair do quarto com elas, começa a questionar-se será que algum dia seus filhos terão acesso à beleza e ao conforto que ela viu na telinha, minutos atrás? Olha para o espelho, ri do cabelo desalinhado, apaga a luz e vai dormir.

Quer saber mais? Clique no título da Crônica.
 
Autores:
Ivone Gomes – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Prof. Jorge Calil Assad Sallum - SBO
Edgar Lopes da Silva – Professor de Língua Portuguesa – E.E. Monsenhor Henrique Nicopelli - SBO

Cursistas: Turma B-3


PALHA AÇADA... NA EDUCAÇÃO!

          A notícia cai como uma bomba para milhares de estudantes!!! A prova e o gabarito vazam nas mãos de um arquivista. Estamos falando do passaporte para as universidades de todo país... o ENEM !
          Geralmente começa assim:”Churrasquinho, galera, no final da tarde no boteco ao lado do campus”, diz um candidato. O outro grita: “Não esquece a cervejinha,hein?!”
          Nossa história teria um final feliz se a imprensa, em geral, não tivesse divulgado mais essa decepção para milhares de jovens...
          Alguém “comprou” a prova??? Não se sabe ao certo... O que importa deste fato, é que se relembramos alguns anos atrás, como todos nós sabemos. o ENEM não tinha relevância alguma para os estudantes, ao contrário, ainda era motivo de chacota para a maioria e pouco importava seu resultado. Agora, nos dias de hoje, quando o governo resolveu “ arregaçar as mangas” e dar uma reformulada neste exame PALHA AÇADA!!!
          Afinal, como tudo que é motivo de corrupção nesse nosso Brasil e, geralmente, além de acabar em pizza, desta vez a impunidade vai correr solta novamente, não esqueçam o nariz de palhaço, pois o picadeiro está armado...

Crônica baseada em notícia do Jornal Folha de São Paulo: "Veja o conteúdo da prova do Enem cancelada após suspeita de fraude" - publicada em 01/10/2009.
Quer saber mais: Clique no título da Crônica.

Autores:
Gisele Adriana Moraes - Professora de Filosofia na E.E. Eduardo Silva - SBO
Ivo Rogério da Silva – Professor de Filosofia na E.E. Jardim do Lago

Cursistas: Turma B-3

O Valor do ENEM

          Meados de 2030, em volta de muita tecnologia, Kaio no auge de seus 37 anos e com sua vida profissional altamente estabilizada, encontra-se às voltas com um problema, o ENEM de seu filho, o antigo vestibular.
          Kaio sabe o quanto é difícil ingressar em uma universidade federal, e seu filho Braian, um estudante de 17 anos, que está no final do ensino médio e que sempre estudou em escola pública, nunca se destacou como o melhor nem o pior, porém mantinha boas notas .
          Diante desta preocupação, Kaio resolveu conversar com seu filho sobre essa questão do ENEM, até porque não o via em momento algum pegar seus livros e cadernos para estudar e preparar-se para a prova, que não demoraria a acontecer. Kaio, então, questionou a falta de empenho de Braian em se preparar para a prova , dizendo a ele o quanto fora difícil, para ele, ingressar em uma universidade. Foi aí que Kaio surpreendeu-se com a resposta dada pelo filho:
_Pai, eu sei... Foi difícil para você também conseguir o gabarito antecipado, deve ter custado muito caro. Mas não se preocupe... Fique tranqüilo, eu consigo na véspera da prova.

Crônica elaborada com base na notícia publicada no Jornal Folha de São Paulo, em 01/10/2009 - 19h13, "Após suspeita de fraude no Enem, MEC divulga na web questões de prova cancelada".
Quer saber mais? Clique no título da Crônica.

 Autores:
Claudineia da Silva – Profª de Língua Portuguesa na EE. Irene A. Saes - SBO
Daniele Aline Granzoto - Profª de Língua Portuguesa na EE. Irene A. Saes - SBO
Antônio Marcos Moreira – Prof. de Filosofia na E.E.Profª Sebastiana Paié Rodella- Americana

Cursistas Turma B-3

Você pinta como eu pinto?

       A mais nova utilidade para o pênis foi vista na 15ª feira erótica (Erótica Fair). Quando o australiano Tim Patch resolveu mostrar toda sua habilidade e destreza. O australiano veio para o Brasil e “causou” espanto na feira erótica, deixando muitos visitantes boquiabertos com suas pinceladas eróticas.
       Se Picasso ou Da Vinci tivessem visto, teriam ficado com seus pincéis caídos diante da desenvoltura do “instrumento” de pintar do australiano, que parecia até ter vida própria. Os comentários na frente do estande onde o pintor ficava eram os mais diversos...
- Mãe! Olha só um... O que é aquilo?
-Que vergonha!
-Nossa, querida, teu pai bem que poderia ter vindo com a gente, queria tanto que ele visse isso...
         E o pênis no seu êxtase de criação conjecturaria:
- Por que o espanto deste povo ao me ver, assim, exteriormente? Sou o que há de mais profundo, belo e criativo! Já vi tantos pintarem com a boca, com os pés e até com os cotovelos. Qual é o motivo do espanto por me ver pintar? Deveriam, sim, ficar espantados todas as vezes que abrissem o jornal e vissem que o Brasil é um dos países que mais exportam filmes de pedofilia; que as crianças são abusadas dentro de suas próprias casas, por aqueles que deveriam protegê-las; que os casos de estupro e do turismo de prostituição infantil são conhecidos em todo o mundo... Isto, sim, é de causar espanto e vergonha!
       Mas logo ficou evidente que o pênis que pinta desempenha outras funções que, até então, desconhecíamos. Não é que o artista tem razão!

Crônica baseada em reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo (sem os dados) Quer saber mais? Clique no título da crônica.

Autores:
Ana Maria Ferraz de Campos – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Prefeito Antonio Zanaga
Laura Dias – Professora de Língua Portuguesa
José Osmar de Oliveira – Professor de Sociologia – EE. Profª Sebastiana Paié Rodella
Em Americana - SP

Cursistas: Turma B-3

Ai que calor! Parece que o planeta vai pegar FOGO.

Quando ouço as crianças falarem que o calor está terrível, que não conseguem mais jogar bola descalças, lembro-me do documentário de Al Gore “UMA VERDADE INCONVENIENTE”, quando ele nos mostra o quanto o homem faz parte da destruição do planeta, trazendo para ele próprio as desvantagens, como não poder sair à rua sem o protetor solar.
Em um desses dias fui ao centro da cidade e o calor estava insuportável, então procurei uma sorveteria para me refrescar e percebi o quanto é verdade as reclamações, que ouvimos sobre o clima, pois meu sorvete em um segundo já havia derretido.
Ao invés de o sorvete refrescar-me percebi o quanto ele estava me sufocando por ter a certeza de que o clima está desequilibrado a ponto de termos que tomar um sorvete rapidamente e não mais se deliciando, como antigamente...

Autores: Cursistas Turma B-3

Maria Conceição Aparecida Leme - Professora de História e Geografia - E.E.Prof.Wilson Camargo”
Assis Henrique Brugnera Professor de Filosofia – E.E. Wilson Camargo
Sandra Regina de Souza - Prof.de Português e Inglês - E.E.Prof.Wilson Camargo

A rotina

Todo dia é a mesma coisa... A mãe chama o filho para ir à escola. Esse ignora o apelo. Ela insiste para que ele vá à aula, pois se faltar perde a bolsa-família.

O jovem teima com a mãe em não atender seu pedido, justificando-se que na aula não tem nada de interessante, só conversas com amigos, músicas no mp3 e, não é necessário fazer nada, apenas frequentar a quantidade de aula necessárias para passar de ano, nem é preciso tirar boas notas.

Insiste a mãe: é preciso estudar para ter uma boa profissão e garantir um bom emprego. O filho contesta: “Por que estudar, se vou parar com essa porcaria e trabalhar?

A vida difícil leva o aluno a desistir frente às adversidades da situação, pois precisando de dinheiro ele não tem tempo de esperar para terminar os estudos...

Cronica baseada na reportagem: "Jovem trabalha sem concluir Ensino Médio", publicada no jornal Folha de São Paulo, de 10 de Outubro de 2009, página C3

Quer saber mais? Clique no título da crônica e veja a página 15.

Autoras:
Lucimara do N. Lopes – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Clarice Costa Conti
Sandra Aparecida Leite de Camargo – Professor de Educação Básica – Ciclo I - E.E Heitor Penteado

Cursistas - Turma B-3

Intimidades de mãe

          Fraldas, mamadeiras, banhos, cuidados...
          ...E quanto choro!
          Mãe e filho se adaptando ao novo universo: para ela a transformação de um ser que agora necessita de seus cuidados. E que exagero! Um ser tão pequeno e que já faz tanto barulho, traz tanta importância e causa preocupação.
          Se a mãe dorme, o coração acorda aos sobressaltos: o bebê! Se ele chora, como saber do que está reclamando? Se estiver calmo, o que está acontecendo?
          “Ser mãe é padecer no paraíso” é um velho dito popular, mas pode-se dizer que é verdadeiro, porque em meio a um universo totalmente novo e diferente, mãe e filho encontram uma fórmula secreta: a intimidade entre dois seres que há pouco tempo eram apenas um.
          Mãe é para ser reconhecida, respeitada e reverenciada, porém, de vez em quando, ela precisa lembrar aos filhos o seu próprio lugar, e o lugar deles na rede familiar.

Autoras:
Adriana Oilivatto Garcia - Professora de Língua Portuguesa – E.E. Profª Maria José Margato Brocatto - SBO
Lice Sônia da Silva de Melo Bertonha – Professora de Língua Portuguesa - E.E Jardim do Lago - Americana

Cursistas: Turma B-3

sábado, 14 de novembro de 2009

A CRIANÇA, A ESCOLA E A INTERNET

É sabido que está cada vez mais difícil o professor prender à atenção dos alunos em sala de aula. Também, em plena era digital fica impossível competir com essa “admirável máquina nova”. É só clicar e tudo está lá, a nossa espera.
Sabemos que não tem como fugir, pois a internet está presente desde muito cedo na vida das crianças e não tem como excluir o virtual do nosso cotidiano. Mas há também outro agravante: alunos que passam a noite e a madrugada na internet e, no dia seguinte, comparecem à escola, sonolentos, sem vontade de ouvir o professor e de realizar as tarefas, pois não trazem o material, alegando que esqueceu. Fazem questão de esquecer. Ocupam-se, então, com o gerar conflitos desnecessários no ambiente escolar.
É de mera importância o controle pelos pais dos horários e conteúdos acessados, porém, nem mesmo os pais conseguem essa façanha, então cabe somente ao professor o desafio de proporcionar aos alunos uma reflexão quanto aos valores implícitos nas atitudes. Criando no espaço escolar a cultura para a vida, frente a uma sociedade que mascara e deturpa os principais conceitos para uma convivência pacífica com sonhos e encantamentos, valores e fatores, liberdade e responsabilidade que supera o individualismo e egoísmo, sendo que o mais importante é saber extrair o que tem de melhor na internet e deletar o que não tem sentido para nossas vidas.

Autores:
Rosangela Aparecida Cassela – Profª de Educação Básica - Ciclo I - EE. João Solidário Pedroso - Americana
Sérgio Fioravante Alvarez – Professor de Filosofia - E.E. Profª Maria José de Mattos Gobbo – Americana

CRÔNICA INTERPRETADA - TURMA A-2

Crônica: "Ao Respeitável Público" de Rubem Braga

Interpretada por Sérgio Itamar Peres Marques - Professor Coordenador da E.E. Profª Jadyr Guimarães Castro - Santa Bárbara d’Oeste - Cursista da Turma C-1 - ‘A Crônica na Vida do Professor e na Sala de Aula’.

Fonte: Vídeo – Crônica Interpretada - 1º Lugar - II Festival de Teatro da Bienal Rubem Braga http://www.listal.com/video/5475529





Parabéns, Sérgio!
Agradecemos a sua participação e colaboração. Foi de grande valia para enriquecimento e valorização de nossos cursos.

Muito obrigada!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Parabéns, Cronistas da Turma A-2...

As crônicas abaixo foram elaboradas pelas cursistas da Turma A-2 - 2ª turma do curso: realizado às quintas-feiras - das 8h30min às 11h30min. Uma turma composta por professoras muito animadas, comprometidas e muito criativas. Foi um imenso prazer estar com vocês e compartilhar as delícias desse saboroso gênero textual: a Crônica.

Que vocês continuem cronicando e blogando, sempre!