quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Noite de Natal

Valdenir Zegioth

Hoje é natal. A casa está em festa. A família reunida. Que legal!

Família reunida, nessa época, é sinônimo de diversão. Para falar a verdade é um verdadeiro circo. A mamãe fazendo verdadeiros malabarismos para a ceia ficar perfeita. Sempre tem um tio palhaço para fazer graça; a tia que sempre avacalha o marido, o outro tio correndo em volta da casa para acertar o primo a vassouradas, por causa daquele pirceng no nariz. Parece o globo da morte.

Natal é assim.

E chega mais um tio metido que mora na capital trazendo, de novo, um daqueles frangões temperados que são vendidos em supermercados e diz: “Já que todo mundo, no ano passado, adorou, eu trouxe. Mamãe, 'relações públicas', acrescenta: “Claro, todos adoramos”. Mas não contava com o meu irmãozinho, muito sincero, num momento de profunda filosofia, que acrescenta: “menos eu”, externando o que todos verdadeiramente pensavam sobre o tal frango. Bastava o tio metido sair e o comentário era geral: “o frango assado da mamãe e o churrasco do papai são muito melhores”.

Acho que é isso que os adultos chamam de ‘convenções partidárias’. Ouvi isso em algum lugar... (mentiras para ficar bem com as outras pessoas). Adultos são assim mesmo, eles pensam que a gente não vê as coisas.

E os micos de natal! Papai correndo até o quintal em busca de boldo, depois de se empanturrar com as rabanadas da tia Maria. E os presentes do amigo secreto? Amigo? Parece mais inimigo na guerra do Afeganistão. É cada presente...

Ah! Não podemos nos esquecer do tio bonachão vestido de Papai Noel dizendo: “oh,oh,oh”, com aquela barba postiça e roupa escaldante em pleno verão, pensando que ainda engana alguém. Minha casa nem chaminé tem... E, onde já se viu, o Papai Noel entrando pela porta da sala, e sem bater? Nem o cachorro o estranha...

É natal, data divertida, muito engraçada. Tão engraçada que não me aguento de tanto rir debruçado na janela. Mas o que vejo na rua! Uma fila de gente muito pobrezinha, com um pratinho na mão, esperando por um pouco de sopa...

Ah... Entendi. Minha família lembrou-se de quase tudo, apenas esqueceu-se de um detalhe: o aniversariante da noite.

Sobre o autor:

Valdenir Zegioth é professor de Geografia. Atualmente exerce a função de Professor Coordenador Pedagógico na E.E. Maria Judita Savioli de Oliveira, em Santa Bárbara d’Oeste.

Participou da Turma C-1, primeira turma do curso 'A Crônica na Vida do Professor e na Sala de Aula'.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Queridos cronistas das turmas A, B, C...

Blogar nos tornou mais próximos... Mais unidos. Nos tirou da efemeridade e nos transportou para um tempo indefinível. Estamos e estaremos sempre BLOGCRONICANDO... Um espaço, por nós, concebido. Cabe a nós mantê-lo sempre vivo, atuante... Cronicamente interessante!

Findaram-se os cursos. Finda-se mais um ano. Aproxima-se o novo. E, neste novo ano, esperamos que todos vocês sejam contaminados apenas pelo ‘vírus’ da felicidade crônica!


Supervisora Ivonete e PC OP Luzia

TURMA B-3

As crônicas abaixo foram elaboradas pelas cursistas da Turma B-3 - 3ª turma do curso: realizado às terças-feiras, das 13h30min às 16h30min. Uma turma composta por professores interessados, comprometidos e muito animados. Foi um imenso prazer estar com vocês e compartilhar as delícias desse saboroso gênero textual: a Crônica.







Que vocês continuem cronicando e blogando, sempre!

SANTO DO DIA

Luciana Beatriz de Leão

Acreditem, todo dia é dia de um santo. Não?! Nem eu sabia! Peço licença aos católicos, não se sintam incomodados pois também vivo no mundo dessas “idolatrias”. Imaginem vocês que para os 365 dias do ano existem comemorações para eles!

Folheando o jornal do dia 23 de novembro, encontrei uma nota sobre o santo da vez. Era São Clemente I. Um simpático velhinho de barbas enormes. Foi o quarto Papa, viveu em Roma e governou a Igreja nos anos de 88 a 97. Priorizou a evangelização e instituiu o uso da expressão ‘amém’.

Lembrei-me, então, do famoso São Longuinhos, escolhido para o dia 15 de março. Viveu no século primeiro, tendo sido contemporâneo de Jesus. O centurião romano que reconheceu Cristo como sendo o ‘filho de Deus’ na crucificação. Ele seria o soldado que feriu o lado de Jesus com sua lança, sendo esta reverenciada, vejam vocês, como relíquia religiosa. Mais popularmente conhecido como protetor para encontrar objetos perdidos. Quem nunca ouviu ou invocou a expressão: “São Longuinhos, São Longuinhos me ajude a achar... (diz-se o objeto) e eu darei três pulinhos”. Haja pique para pagar a promessa!

Hoje, 01 de dezembro, dia da “formatura” do curso de crônica, que santo é, você sabe? “Prazer sou o São Elloy; o Bispo de Noyon-Tournai, em meados de 645 DC”.  Era um talentoso ourives e exemplos de suas habilidades com metais sobrevivem até hoje, em Paris. Por isso, transformou-se no padroeiro dos ourives e dos mecânicos.

Nunca imaginei encontrar tantas curiosidades no mundo religioso. Algumas simpáticas, outras bem estranhas, extravagantes. Mas todo tipo de conhecimento é válido para nos enriquecermos como seres humanos, assim, também, como foi o curso de crônica. Dessa forma terminarei citando alguns dizeres que foram instituídos por esses abençoados santos:
“Fiquem com Deus e... Amém!”

Sobre a autora:

 Luciana Beatriz de Leão,29.
"Passei minha infância no Noroeste Paulista; cursei Letras na FAI - Soler, na cidade de Jales e, atualmente, leciono na rede estadual de ensino, nas escolas: E.E. ProfªSebastiana Paié Rodella, em Americana e E.E. Profº Antonio Matarazzo, Santa Bárbara d'Oeste."

NOVA BRINCADEIRA DE ESCONDE–ESCONDE

Lucimara do Nascimento Lopes

Querida mamãe, entendo perfeitamente a sua preocupação em zelar pelo bem-estar de seu filho. É uma causa que posso apoiar porque sou mãe também. Mas, no caso de seu filho, devo lhe dizer que a senhora cometeu um engano ao me filmar. Aparentemente, é uma medida adequada no caso de desconfiança.

 Em primeiro lugar, não se tratava de um sufocamento qualquer. Quando fui fazê-lo com o seus bebê, assim como já fiz com vários outros, parecia um ato incomum, mas logo ficou evidente que não passava de uma simples brincadeira de esconde-esconde. Eu colocava o pano no rosto do bebê, ele fechava os olhos por uns segundos e depois abria. Chorava para que eu colocasse o pano novamente. Uma brincadeira muito engraçada.

Outras pessoas também brincam: de ver 'quem arranca a roupa primeiro' ou 'você faz carinho no meu bumbum depois eu faço no seu' ou ‘vamos brincar de pega-pega'. Por que não 'brincar de esconde-esconde' que é muito menos ofensivo?

A brincadeira era tão prazerosa que, ao final da tarde, tomávamos um leite bem gostoso.

Tudo estava bem, até você chegar, assistir à filmagem e achar que brincar de esconde-esconde é caso de polícia.

Crônica baseada na notícia “Vídeo flagra babá sufocando bebê com um pano, em Fortaleza”, publicada no R7 da rede Record, no dia 04/11/2009, às 8h18min.


SOBRE A AUTORA:

Lucimara do Nascimento Lopes é natural de São Pedro- SP, nascida em Maio de 1981. É Professora de língua Portuguesa e Língua Inglesa na rede Estadual de Ensino. Tem muito amor pela profissão.

É uma pessoa extrovertida e simpática. Tem um amor incondicional pela família, gosta de ler e está sempre em busca de novos conhecimentos.

As provações por que passamos

Carmen Cecília Groth

Quantas vezes não tivemos que provar e aprovar tantas coisas e pessoas. E muitas vezes, você tenta ser aprovado, faz o teste, não prova nada e, portanto, não passa. Com a namorada, a esposa, sempre temos que provar alguma coisa. Provar que ainda a amamos, que lembramos da data do aniversário dela, onde foi o primeiro beijo ou como foi. Às vezes, faz tanto tempo que não nos lembramos mais. E quem disse que isto é desculpa? Não provou que se lembra, vai dormir na casinha do cachorro, ficar de quarentena, até provar que não a esqueceu. Lapsos de memória... Nem pensar!

Quantos motoristas ao tirar a carteira de habiitação, na prova teórica/prática são reprovados... Sabem dirigir, mas na hora H, o nervosismo; praga de vizinho; uma briga na noite anterior... São tantas as coisas que nos levam a errar algo que nos é tão comum no dia a dia.

Na escola, então, nem se fala. Tantas provas! Provas que são agendadas - ENEM - e "vazam". Na tentativa de uma desculpa, coloca-se a prova na internet para servir de simulado para o aluno e marca-se outra data para a realização da dita cuja... E a prova do SARESP, na véspera da prova, somos avisados que a prova não chegou... Do outro lado o aluno questiona: “Para que esta prova?”, “ Sou obrigado a fazer?” , “Se não a fizer serei punido?” Enquanto, nós, professores, ficamos sem resposta.

Não bastasse estas provas, chegou mais uma a “Prova Brasil”! E nós nem fizemos o ENEM ainda...

No início do ano, disseram-nos que a avaliação deve ser diária, diagnóstica... Por que, então, tantas provas? O que nos querem provar e para quê?

Quanto a nós, por que estamos sempre sendo postos à prova?

Até uma peça do vestuário, quando compramos, é preciso provar. Caso contrário, podemos não aprovar a compra.

Sobre a autora:

Carmen Cecília Groth é professora de Português e Inglês. Leciona há 20 anos.Tem uma filha casada. Trabalhou em duas escolas em Santa Bárbara D'oeste, onde mora e leciona nos períodos manhã e noite na Escola Ulisses de Oliveira Valente.
 “Gosto muito do que faço me considero valente também. Na escola procuro sempre auxiliar ao invés de questionar.”


A culpa é da gravação

Laura Dias
Arruda se defende dizendo que a culpa é da gravação.

Não adianta Arruda, você foi visto.

Foi-se o tempo em que o melhor lugar para se guardar dinheiro era nas burras, embaixo do colchão; nos cofres em casa; nos engraçados porquinhos de porcelana ou em um local muito freqüentado pela população menos favorecida e pouco pelos políticos desonestos: as instituições financeiras, os bancos.
Agora, os políticos, lá do Planalto, estão tão apegados aos numerários que ganham - é claro, com muito esforço – que os carregam juntinho de seus corpos. Passaram a usar calças e sapatos dois, quatro, seis números maiores, só para andar com eles em cuecas e meias. Saibam que quanto mais alto o cargo maior é o número do sapato.

Que vergonha, governador! Ainda tem coragem de desmentir as gravações e dizer que o dinheiro guardado nas meias era para comprar panetones???

Enquanto no Planalto os políticos desonestos aumentam a numeração dos sapatos, recheando-os com dinheiro, cabe a nós eleitores - trabalhadores com os bolsos vazios; contas bancárias no negativo e cartões de crédito estourados - colocarmos um nariz de palhaço pequeno, discreto, pois se a polícia nos pegar, pode nos prender sob a alegação de que estamos causando ‘tumulto’.

Conclusão: iremos parar no Distrito Federal... Op’s, distrito policial, seremos fichados, perderemos os nossos empregos e, finalmente, seremos hostilizados pela família e pela comunidade.

Bobagem. Esqueçam o nariz de palhaço!

Sobre a autora:

Laura Dias é Pedagoga especialista em magistério para deficiente mental. Uma pessoa alegre, sempre sorridente. Sua alegria contagia todos que estão a sua volta.

Amigo

Sandra Souza

Ao despertar, aquela idéia fixa de possuir um animal de estimação não saía da minha mente. Decidi e fui buscá-lo. Optei por um cachorro. Fomos escolher. Logo simpatizei-me com um.

À primeira vista, preocupei-me com sua beleza radiante. Com o passar dos dias percebi que o Booner não era só bonito. Na hora do perigo, mesmo com medo ele latia para defender-me. Os dias foram passando, o Booner crescendo, e a nossa amizade também.

Hoje, após muitas aventuras juntos, percebo como é bom a certeza de ter um amigo e saber que ele nos aceita com as qualidades, com as manias e, até, os defeitos. Não nos abandona porque vai viajar, fazer cursos na Alemanha ou porque comprou um novo apartamento na praia e não tem mais tempo para nós.

Garanto que se, um dia, o Booner viajar para o exterior, ele há de arrumar um segundo do tempo dele para me ligar(porque amigo é assim se não está junto fisicamente, está presente no pensamento, nas atitudes).

O que é um segundo do seu tempo em comparação à grandiosidade de uma amizade?!


Sobre a autora:

Sandra Souza. Graduada em Letras, é professora de Língua Portuguesa e Inglesa, atua na rede estadual de ensino da região de Americana - SP.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Será que mudar os papéis resolve?

Ivo Rogério da Silva

Educadores saem em visita aos alunos para conhecer sua realidade domiciliar. Projeto pioneiro da Secretaria de Educação o Programa de Interação Família –Escola: conhecer para aprender, implantado este ano quer alem das Emefs atingir os alunos de ensino infantil e aprimorar cada vez mais esta busca pelo novo, as mudanças são para melhorar.

Estamos caminhando para um momento diferente na educação, programas de prefeituras invadem o sentido do conhecimento e se misturam com o assistencialismo. Basta de protecionismo barato e de falsificar o conhecimento, deixem o professor fazer o que mais lhe pertence: buscar e levar o saber.

Queremos tanto inovar, que acabamos exagerando nas doses e confundindo funções. Bons tempos eram aqueles em que o professor era a figura representada pelo saber, dedicava sua vida para estar lá, diante daquele que vinha buscar o saber. Mas o tempo passou e a sociedade perdeu o que mais tem de rico: o respeito. E, em nome de uma pseudo liberdade, coloca em xeque a dedicação e a vida, em busca do desconhecido, daqueles que se propõem a levar o saber. Saber que deteriorado com tantas invenções e funções, nos permite questionar: “onde está o saber?”

Vamos dar uma cara nova ao saber, valorizando e personificando cada vez mais o papel daqueles que estão para o saber. Deixe desabrochar a coruja que esta no interior desta figura insubstituível que é o professor. Deixemos sim que os sociólogos, assistentes sociais, façam este trabalho e levem, sim, as famílias a se encontrarem e buscarem também o conhecimento que falta para uma vida mais digna e salutar.

Deixemos este protecionismo de lado e nos abramos ao conhecimento profundo do ser, do desvendar os mistérios do outro e de nós mesmos. Os nossos pais e alunos merecem este retorno ao saber.


Sobre o Autor:


Ivo Rogério da Silva é Professor de Filosofia da Rede Pública do Estado de São Paulo, formado em Filosofia pela UNICLAR, Teologia pela PUC do Paraná e Pedagogia pela FIA de Amparo. Escreve para o Jornal "O Liberal" toda semana em seus mais diversos temas e artigos ilustrando assim nossa cultura e escrita.

Sob o Sol de Dezembro

Anna Teresa Rojas Molina Assumpção Gouvêa

Sol de dezembro, o calor é infernal e o meu desejo mais íntimo é por azul: azul cobalto, azul real, anil, turquesa... Uma profusão de azuis é o que espero para janeiro. Eu até já apaguei o vermelho e branco, cores tradicionais para o final de ano. Será a pressa, ou o ritmo acelerado do tempo? De qualquer maneira estamos vivenciando de forma diferenciada, diga-se de passagem, os “finais” que chegam atropelados entre arrochos de chefias, gráficos e porcentagens, além das profecias; novidades tecnológicas e cataclismos. Não nos esqueçamos da gripe.

Por tudo isso, nosso pensamento exausto se adianta em busca de descanso, o tão sonhado descanso. “Sombra e água fresca”.

Chega! E quando digo chega, refiro-me a ações que vão desde o cessar fogo, nos morros cariocas e nas trincheiras atuais das variadas guerras e conflitos, até o fim das epidemias contemporâneas e à falta de amor próprio e aos circundantes. E tudo isso porque, o meu desejo de convivência é antigo, muito antigo, vem lá de nossa ancestralidade social onde um pequeno grupo se punha diante de uma fogueira, com uma luz incerta a fazer sombras nas paredes das cavernas e o calor sendo suficiente para aquecer os homens e para contextualizar a ficção das suas aventuras ali narradas...Bons tempos de convivência .

Hoje, em pleno século XXI, em busca de paz interior e conforto entre amigos sigo a solidão de meu dia a dia. Sempre rodeada de pessoas, mas muito sozinha. E eis que na faina diária, sol a pino, calor abrasante, céu azul (azul até demais), escancara-se o dia e a imagem que descreverei a seguir. Ela abre-se diante dos meus olhos sem nem mesmo me pedir licença e com ela, em anexo, a própria fragilidade humana, explícita e surpreendente, deixando estupefatos os menos avisados, os distraídos...

E foi assim que o acaso me pregou uma peça, uma cena patética, nos primeiros momentos e, em seguida, digna de compaixão, pedindo cumplicidade a nós mulheres.

Vamos ao fato, meio-dia e quinze minutos, céu azul, azul até demais, saio do trabalho e, como nos outros dias, tenho trinta minutos para almoçar e me dirigir ao segundo turno de minha jornada diária. O tempo é curto, dá só para uma retomada de fôlego. Filhos a bordo, reivindicando coisas banais, inclusive o som do carro, e lá vamos nós no heavy metal e mais o calor, que é escaldante. Ligo o ar condicionado e fecho os vidros. Um escudo invisível, inclusive para os ouvidos. Desligo-me de tudo, ou quase tudo, ligo o piloto automático, que olha o trânsito e confere o trajeto de sete minutos até minha casa, mas é justamente esse mecanismo (não tão infalível assim) que me avisa: “Alerta, obstáculo na pista”... Antes mesmo de conferir, diminuo a velocidade, firmo o olhar... De costas o vulto é de uma mulher, no meio do asfalto, correndo à frente do carro. Olho no retrovisor, ninguém atrás. À esquerda, o mesmo prédio abandonado, as janelas sem os vidros são como órbitas que há muito perderam a vida e por isso estão cegas a qualquer movimentação que não seja a de sempre. À direita, árvores antigas, e egoístas, impassíveis diante do asfalto. Mas, à frente, havia uma mulher, uma mulher no meio do caminho... Maratonista? Talvez...

Adivinhando as minhas perguntas-pensamentos, ela diminui a marcha, olha para trás, nossos olhares se encontram, ela hesita. Eu paro o carro no meio da rua, ela, inesperadamente, de frente para o carro, diante dos meus olhos e dos meus filhos, mudos diante da cena. Braços abertos em frente ao vidro panorâmico do carro e ela me pede em desespero: “ Me mata, moça, me mata!?” Com os olhos pregados nela respondo sem pensar: “Minha senhora, o que é isso!?” A voz sai do fundo, quase como um pensamento que escapa sem permissão. Ela continua: “Eu quero morrer!” Sem titubear argumento: “Mas minha senhora, sua vida é tão preciosa! Por que morrer?” Ela conclui:”Meu marido me traiu!!!”

Num misto de espanto pela ingenuidade e pureza daquela declaração, admirando a honestidade e, por que não dizer coragem, assumida diante da confirmação do adultério (seria covardia?), retomo a direção do carro, ela por sua vez dirige-se para a lateral da rua. Já posso olhá-la de lado, então tirei o pé do freio e lentamente o carro seguiu, pela força da gravidade, morro abaixo. Meu desejo íntimo era de estacionar, descer do carro, tomar-lhe as mãos, sentar-me com ela ali mesmo na calçada e ouvi-la, depois oferecer-lhe uma carona, talvez, dizendo: “ Minha senhora, apesar dos traídos(as)e das traições, a vida continua”

Fui despertada pela voz de meus filhos; “Mãe, olha a hora!” Olhei o painel do carro: 12h30min. Voltei-me para a mulher, ela já desviara o seu olhar. Acho que fiquei parada ali por segundos. Ela parecia determinada a fazer com que alguém assumisse com ela o ônus de sua morte e seguia correndo em direção aos carros que se desviavam dela. Tirei o pé do freio e acelerei, não muito e quase a alcancei novamente. Ficando próximo o bastante, pus a cabeça para fora do carro e gritei: “Minha senhora, se a senhora morrer, ele fica com a outra, viu!? ”Ela hesitou, voltou-se para mim, olhar perdido, pareceu querer voltar, mas agora fui eu que aumentei a marcha, pois tinha um carro atrás, uma moto ao lado e todos olhavam para mim sem entender nada . À frente o semáforo avermelhou e eu tive que parar. Pelo retrovisor pude vê-la no meio do cruzamento, estava determinada a encontrar alguém que lhe tirasse a vida.

Sobre a autora:

Anna Teresa Rojas Molina Assumpção Gouvêa - Professora da Rede Pública e Privada, graduada em Letras e pós-graduada pela Faculdade de Educação- Unicamp - Mestrado.
"Aos 12 anos tinha o grande sonho de ser escritora de livros infantis. Hoje, me contentaria em escrever crônicas."

Compras na Capital

Lázaro Jair de Paula

Queria eu comer aquele pedaço de bolo que estava jogado em uma sacola, na lixeira.
Olhando com olhos de fome, como todo menino que catava latinha para vender. Já cansado do sol escaldante, daquele dia de verão, com os pés cheios de calos, com sapatos furados... Dava dó. Se, por acaso, pisasse em uma moeda, daria para saber se era cara ou coroa.
Mergulhado no suor do sol escaldante, já chegava a tarde de verão, tinha ido à capital em busca de sonhos. além de conhecer aquela tão famosa cidade, compraria alguns objetos para revender e lucrar alguns trocados. O dinheiro que levei, mal dava para comer. Pensava: "Se eu gastar com comida não levarei nada. Está tudo muito caro por aqui."
A fome apertando, assim como apertava aqueles miseráveis trocados no bolso. Tinha medo que alguém os roubasse e meus sonhos iriam por água abaixo.
No entardecer, já cansado, nada tinha comprado. A sacola estava vazia... tal qual minha barriga.
Resolvi sentar-me, para descansar um pouco, na primeira calçada que avistei. Sonhava com o prato de arroz com feijão que minha mãe fazia, e também, com o ovo frito, cuja gema mais se parecia com uma bola de ouro. Olhava para o céu lembrando do sol escaldante do meio dia.
De repente, olhando para a lixeira,  me lembrava daquele pedaço de bolo de fubá sobre a mesa do café da manhã, que minha fazia. Não era o meu forte... Nunca gostei de bolo de fubá! Queria mesmo era comer bolos com recheio, cobertura e chocolates. Mas, nunca tinha. Era sempre aquele bolo de fubá.
E, minha mãe brigava comigo. Dizia: "Coma!" Isto é para matar a fome.
Vocês nunca ouviram aquele ditado: "Quem não tem cão, caça com gato!"

Sobre o autor:

Lázaro Jair de Paula é professor de Língua Portuguesa e trabalha na rede estadual de ensino de Americana, Santa Bárbara d'Oeste e Piracicaba.

A Velocidade da Vida

Ivone Gomes

Maria sentou-se em frente ao computador ligou o aparelho e em alguns segundos já estava navegando pelo mundo virtual, enquanto lia as notícias, começou a se lembrar de quando era criança.
Ela nasceu na época em que a comunicação a distância era feita através de cartas. Quando alguém queria dar notícias a um parente distante escrevia uma carta e, após algumas semanas, recebia a resposta, às vezes, mandavam notícias de uma pessoa que estava doente, porém quando o destinatário recebia a correspondência o ente querido já estava enterrado.
Hoje, a dor e a alegria chegam de maneira mais rápida, o mundo caminha mais rápido, as crianças perdem a inocência mais cedo, as informações caem como raios sobre as nossas cabeças. Na velocidade da vida, quem não consegue acompanhar os avanços vai sendo atropelado e deixado para trás.
Maria estava diante do mundo, diante das notícias de violência, catástrofes, acidentes... Pensando como a ciência evoluiu e continua evoluindo. O que ontem era tecnologia de ponta, hoje é produto obsoleto. Em sua mente, surgiram várias questões: “Porque será que o ser humano continua matando seus semelhantes, como Caim fez com Abel?” De lá pra cá, tantas coisas mudaram... Por que apesar de tantos avanços o amor e a paciência tornaram-se sentimentos obsoletos em relação à pressa, à urgência de chegar, e ao desejo de poder? Cada um com seu carro, pois o transporte público é ineficiente, as ruas não têm mais espaço, os nervos estão à flor da pele. Como nos joguinhos de computador, o vencedor é aquele que destrói tudo o que o impede de chegar mais rápido ao seu objetivo. Dessa forma, as pessoas convivem com o seu semelhante: "quem pode mais chora menos".
Nesse momento, Maria desejou, no fundo do seu coração, que os cientistas inventassem um aparelho de bons sentimentos (já que a tecnologia é tão respeitada) para que, ao simples toque de um botão, o ser humano pensasse em seu próximo com mais amor e respeito. Assim,  mesmo que as notícias chegassem rápido, elas causariam menos dor.

Sobre a autora:



Sou professora de Língua Portuguesa e Inglesa. Trabalho na Escola Estadual Jorge Calil. Gosto muito de poesias, crônicas, músicas.

Panetone para quem tem fome

Claudineia da Silva
Nada a declarar se temos que doar...
Nada mais lindo que ajudar o próximo....mas é claro com o dinheiro do próximo .
Vivemos num país que precisa de segurança; que precisa de proteção. Infelizmente, não temos ainda esses direitos assegurados.
Talvez, por isso, criamos as nossas próprias estratégias para nos assegurarmos, nos protegermos.
Buscamos nos proteger de qualquer forma .
Há tempos, as senhoras, quando dispunham de quantias altas colocavam-nas entre os seios.
Passados muitos anos, os homens também se preveniram colocando dinheiro na cueca... Hoje é colocado nas meias, até porque, colocar em maleta gera suspeita!!!
Portanto, para nos protegermos, coloquemos nossos valores em cuecas, em meias... até que apareça uma outra estratégia mais criativa.
O importante é proteger as doações... Está chegando o Natal, época de festas, época de fazer o bem.
E, falando em Natal, me veio em mente panetones... Então, para garantir a doação de panetones, vale tudo! Só não vale guardar os panetones nas meias.

Sobre a autora:
Claudineia da Silva, professora, 34 anos. Atualmente, está lecionando na E.E. Irene A. Saes, em Santa Bárbara D'Oeste - SP.

Saga Crepúsculo

Antonio MarcosMoreira

Depois de ouvir uma professora de filosofia comentar com outra amiga que passou o filme Crepúsculo para seus alunos, que eles adoraram e depois disto fizeram uma reflexão filosófica. Então, me inquietei. Qual é a importância deste filme para a filosofia?
Então, em um fim de semana qualquer, assisti a alguns filmes, dentre eles, o tão esperado Lua Nova, da saga Crepúsculo.
Pois bem, vou começar falando de Crepúsculo, um filme que nasceu meio desacreditado. Eu, na verdade, não sabia nem que era livro, quiçá uma saga! Assistindo a um programa que narrava os últimos lançamentos do cinema, vi esse filme que falava somente a respeito de um amor entre uma menina e um vampiro adolescente com cara pálida. O que me chamou a atenção na hora, foi a ideia de que o filme tinha tido pouca atenção da mídia e um orçamento baixo, porém com uma ótima repercussão. Pronto já mandei bala no Google, Torrent, e por ai vai...
Assisti junto com alguns amigos. De um deles partiu o primeiro comentário:
- Nossa que filme legal!
Pouco tempo depois, a febre começou. Eu mesmo não me lembro de ter passado em frente a algum cinema, visto no Omelete ou qualquer outro site sobre cinema, alguma menção sobre esse filme. Talvez pra quem já tenha lido o livro ele já fosse esperado, mas para quem não imaginava o que era o filme conquistou sim um “patcha” público.
Agora, vejo um filme que nasceu quase como Underground que provavelmente iria rolar só na Internet ou de, vez em quando, alguém pegaria na locadora e seria criticado por ser um filme de adolescente. Um ‘American Pie’ romântico.
Definitivamente, creio que crepúsculo e a sua continuação são mesmo um série de filmes simples, um historia simples, e bem amarradinha, sem um orçamento multibilionário, como um Matrix, Transformers e outros. Mas é um filme que atrai. Críticos adoram dizer que filmes, hoje em dia, não têm criatividade, tem uma enorme ausência de história. Agora, um filme simples com uma história simples já é um filme de Teen.
Em todas as situações acima, não digo simples, por conta de simplório, ralé e tal, digo simples, no sentido de se entender o filme, ou seja, simples na forma de se assimilar.
Não vou ficar aqui falando dos mais novos namoradinhos da América (Kristen, Pattinson, Lautner), mas é um filme com boas atuações. Se bem que ator bom é o que agrada o público. Ser um sheakspeariano e viver fazendo peça só pra outros atores é complicado.
Em país onde atores, escritores e outros senhores que adoram fazer coisas para um sociedade elitista à parte, grandes BlockBusters como esse fazem o sucesso que fazem.

Sobre o autor:
Antonio Marcos Moreira é professor de Filosofia na E.E. Profª Sebastiana Paié Rodella, em Americana - SP.

Vou ser mãe

Lice Sônia da Silva de Melo Bertonha

Ser mãe sempre foi o meu sonho. Tudo muda na vida da gente.
Ser mãe é ter uma vida de renúncia da própria vida. Tudo fica diferente, desde o inicio da gravidez, começamos a nos privar de coisas que dizíamos jamais nos afastar.
Percebi que tudo acontece em função desse novo ser, que está se formando em meu ventre, desde o primeiro momento: a expectativa de ver o resultado do teste e a emoção ao ver o “positivo”. É uma vida que está se preparando para chegar neste mundo.
A vida passa a ser outra: os lazeres, os horários, a alimentação, noites sem dormir, aprender a identificar cada choro, cada mudança de humor e, até mesmo, cada sorriso. A partir do nascimento, vivenciarei todas essas experiências. Tudo muda em nossa volta: os pensamentos, os conceitos, até os valores. Estes podem aumentar, porque vem aí uma nova vida para se cuidar...
Na expectativa da chegada do grande dia surgem: a emoção, a ansiedade, a alegria, o entusiasmo! Chegam as preocupações: dar banho; mudar as fraldas (muuuuitas...); amparar os primeiros passos; ajudar a crescer e... transmitir valores.
Serei mais uma mãe neste mundo, dentre tantas. Muitas enfrentam dramas, dificuldades e, infelizmente, existem as mães que nem se preocupam com seus filhos...
Ser mãe é sentir crescer algo divino dentro de nós, durante nove meses.
Ser mãe é cumprir uma grande tarefa.
É passar noites sem dormir...
É ralhar, quando preciso.
É planejar em conjunto.
É renunciar da própria vida, pela vida do pequeno ainda esperado .
Não importa a idade de ser mãe... Acima de tudo, o que importa é saber amar.
Não importa o momento, ser mãe é divino em qualquer tempo!
Esses pensamentos vão ser o meu novo conceito de vida daqui a alguns meses.



Sobre a autora:

"Nasci em 19 de março de 1978. Sou professora de Língua Portuguesa e Língua Inglesa, graduada em Letras. Trabalho no Programa Escola da Família, desde 2004. Sou casada e agora vou ter uma nova experiência de vida: serei mãe. O que eu mais gosto é de sempre estar aprendendo coisas novas."