domingo, 15 de novembro de 2009

Ah, ninhos de passarinhos!

          Num diálogo cotidianamente informal, mãe e filho se cruzam na saída do banheiro:
          -Cê tá acabada hein?
          -É, já fui como sua namoradinha, veremos quando ela chegar a minha idade, como estará.
          O espelho no final do corredor pareceu aumentar a silhueta e acentuar o já visível bigode chinês. E os cabelos então? Se abaixasse um pouco mais deixaria à mostra a linha divisória da idade, ao centro do repartido do cabelo – o real, nas laterais – a idade desejada. E os seios? Bem esses há muito tinham deixado a firmeza de melões maduros e suculentos.
         Abre-se então os parênteses e como num flash back, as imagens surgem na tela do espelho, como num filme hollywoodiano; os seios de Sophia Loren, as pernas de Marylin Monroe e o rosto, é claro era o seu, há trinta anos. Imaginava-se em cena a contracenar com Giuliano Gema ou seria Alain Delon ? Bem, tanto faz, estava sensualmente vestida num twin set de “banlon” que faziam na época, o que a lycra faz hoje, nos ajustes, segunda pele. As cinturas elásticas e largas, afinando a cintura, como um mini espartilho – cintura fina, cintura de pilão, deixando ainda mais proeminentes os seios eretos e piramidais, estruturados por soutiens costurados com penses em caracóis que seguravam os bojos, os famosos “ninhos de passarinho”, produto artesanal, feito sob medida, bem diferente dos p, m, g, e gg das próteses siliconadas vendidas a granel, que nem sempre agradam as compradoras.
       É bem verdade que as formas arredondadas estavam mais na moda e nas rodinhas e nos chás beneficentes, o chique mesmo eram os comentários das amigas; “quantos ml têm o seu? É pera ou é gota?” “Com quem você fez?” “Quantos dólares?”.
        Estava assim a conjecturar diante do espelho quando o barulho do portão eletrônico a tirou de seus devaneios. Era ele... Viria com flores e bombons? Entraria pela porta e a mediria com um olhar de quem quer tomá-la nua instantaneamente e arrebatá-la nos braços?
       Ouviu seus passos na escada, sentiu seu coração acelerar, a garganta chegou a raspar, as pupilas dilataram, os lábios inferiores comprimidos... Já enxergava sua silhueta na porta, sentia sua aproximação, seu perfume, ela buscou seu olhar... Então, lhe ouviu a voz: “-Olá querida, tudo bem?” Sem nem sequer dirigir-lhe o olhar, “- estou tão cansado hoje, vou tomar um banho e vou para a cama”. E antes mesmo que ela respondesse, ouviu o barulho do trinco da porta do banheiro e em seguida a água do chuveiro a cair.
        Olhou pela janela, as luzes da rua já estavam acesas. Fim dos sonhos, num toque dos dedos acendeu as luzes, recolheu as roupas sujas que ele deixara jogadas no chão do quarto e dirigiu-se à lavanderia, passando pela cozinha lembrou que ainda precisava preparar o jantar.

Autoras:
Anna Tereza Rojas M. A. Gouvea – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Wilson Camargo - SBO
Carmen Cecília Cecília Groth – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Prof. Ulisses de Oliveira Valente – SBO

Cursistas: Turma B-3

7 comentários:

  1. meninas vcs arrasaram, mulher sofre... e não tem valor. Para~´ens , adorei a cronioca. Profª Rosangela Cassela

    ResponderExcluir
  2. Realemente no dia a dia as mulheres tem a tendencia de se acharem feias, mas com o tempo nao ficamos feias e sim mais belas e sabias

    ResponderExcluir
  3. Anna, vocês escrevem muito bem, continuem assim, logo sairá um livro dessas crônicas.

    Maria de Lourdes Angelo

    ResponderExcluir
  4. Muito bem,hoje as mulheres são consideradas como feias e desvalorizadas.

    ResponderExcluir
  5. Parabéns pela crônica, como disse nossa colega acima vocês arrasaram. Parabéns novamente, sou sua fã.

    ResponderExcluir
  6. Meninas, meio triste este texto quando a gente tem que ler concordando.Mas é a pura realidade.

    ResponderExcluir
  7. Anna parabéns pela crônica de vocês

    ResponderExcluir

Não esqueça de comentar...