quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Democracia?

Kátia Valéria Caio Terense Peressinotto

A coordenadora informa em um HTPC:
- Professores, prestem atenção! A partir de hoje, por determinação da dirigente, assistirei as aulas e entrevistarei os alunos para saber como estão as aulas e como eles avaliam o aprendizado.
- Como?
- Avaliar minha aula?
- Alunos me avaliando?
- Calma, pessoal! É só uma rotina, não precisam se preocupar.
- Como não? Você já esqueceu o que é ser professora?
- Gostaria de estar sendo observada?
- E se nessa aula os alunos estiverem fazendo a maior bagunça?
- E se nesse dia minha aula não for boa? Serei avaliada por uma única aula?
- Calma, gente! Vocês estão se precipitando...
- Precipitando nada, você fala isso porque não é você...
- Quem diria... Depois de vinte anos dando aulas, vou ter que passar por esse vexame! Avaliada por alunos e coordenadora como se não soubesse dar aulas...
- Não é bem assim! É só para poder ajudar vocês, trocar idéias de algumas práticas de ensino, melhorar a qualidade das aulas para os alunos.
- Mas, me diga, por que isso? Desconfiança que não estou usando o material ou não ensino nada?
- É isso mesmo, de onde surgiu essa ideia absurda?
- Não sei, mas muitos pais reclamam que os alunos não aprendem muito, que existem professores que não são preparados, e que até em Taiwan têm professores melhores.
- Ainda mais essa. Estão me chamando de incompetente! É fácil julgar quando se está atrás de uma mesa, longe de sala de aula.
- Eu nem ligo! Não vou mudar minhas aulas! Só falta um ano mesmo para aposentar...
- É isso mesmo. Os alunos que bagunçam e nós que seremos punidas?
- Como posso ser avaliada por alunos que querem me ferrar?
- Eu sei que os alunos fazem bagunça, às vezes, inventam, não vou olhar isso... Só o pedagógico. Calma! Vocês estão irritados à toa.
- Sou obrigada a deixar? E se não permitir?
- Não tem escolha. São ordens e terei que cumprir. Fora isso o supervisor também virá!
- Não faltava mais nada...
- Gente são ordens. O que querem que eu faça?
- Defenda nossos direitos. Será que existe o direito dos adultos? Só escutamos falar agora dos direitos das crianças e nós onde ficamos nessa?
- E depois dizem que vivemos em democracia...


Crônica elaborada com base na reportagem: "Professores brasileiros precisam aprender a ensinar?" publicada no jornal Folha de São Paulo, em 10/08/2009 - Caderno Ciência - Entrevista da 2ª, pág. A16 - Entrevistado: Martin Carnoy, "Para economista, é preciso supervisionar o que ocorre na sala de aula no Brasil; problema também afeta escola partucular"
Clique no título da crônica e leia a entrevista (ou copie e cole esta URL na barra de navegação da Internet de seu computador): http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd100809.htm)

Sobre a autora:

Kátia Valéria Caio Terense Peressinotto, nasceu em Americana, em 1962. Pessoa cética desde pequena, nunca se deixa levar por opiniões alheias. Diplomou-se em 1984, em Letras, mas tinha pouco interesse pela profissão por pensar não ser preparada o suficiente para enfrentar alunos. Preferia manter relações profissionais com pessoas objetivas, experientes e com ramos desvinculados à Educação. Em 1996 ingressa na Educação e começa aguçar a curiosidade e o poder crítico de todos seus alunos. Seus conhecimentos são adquiridos através de leituras, reflexões e troca de idéias onde possa analisar e concluir. Acredita na capacidade das pessoas e adora instigá-las.

3 comentários:

  1. Oi, linda!
    Adorei sua crônica e biografia. Você é super criativa. Parabéns.

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  2. Kátia
    muito legal!!!! É o sistema do qual fazemos parte! Mas você é competente. Tira de letra.
    Beijos
    Angela

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  3. Você sabe o quanto te admiro!!! Gostei da sua crônica. Apesar de tudo ainda sobrevivemos...
    Abraços!
    Cleuzeli

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