terça-feira, 22 de setembro de 2009

Direitos Humanos???

Edilene F. Antunes de Souza

Quando vi a notícia que um dos bandidos mais perigosos do Rio de Janeiro, Alexander Mendes da Silva, o Polegar, obteve progressão para o regime aberto (que dá o direito de passar o dia em liberdade) e fugiu no primeiro dia do novo regime, fiquei mais uma vez indignada. Alguém tinha alguma dúvida de que isso não ocorreria? O pior foi ter que ouvir a explicação do Presidente do Tribunal de Justiça do Rio: “Polegar já cumpriu parte da pena e, por isso, tinha o direito de passar para o regime aberto”.
Todos os dias somos “bombardeados” por notícias terríveis cometidas por indivíduos que, além de não respeitar a vida alheia, ainda reclamam por seus “direitos humanos.”
Direitos Humanos??? Um ser que comete atrocidades como: homicídio, latrocínio, estupro, pedofilia, às vezes até contra os seus familiares, e pior, contra os próprios filhos, a quem, até mesmo por instinto natural, deveria proteger, pode ser chamado de HUMANO?
E como ficam os direitos humanos da grande maioria da população brasileira que, sem apoio e sem condições mínimas, tenta sobreviver diariamente?
O que fazer? A quem cabe a responsabilidade?
A resposta para estas e muitas outras questões todos nós sabemos. O que falta não é apenas vontade política, mas também princípios morais e éticos.
Ao ver a reportagem, lembrei-me de uma carta que li há alguns anos, de autoria desconhecida, de uma mãe para a mãe do assassino de seu filho. Esta carta sintetiza muito bem o sentimento de impunidade, revolta, indignação e insatisfação que há muito tempo a população brasileira tem vivenciado, tem “sentido na pele”. Esta carta é um desabafo de uma mãe com uma dor imensa, não só pela perda do filho, mas também pela inversão de valores que presenciamos, atualmente, em nossa sociedade. Fiz questão de reler a carta e, também, tomei a liberdade de dividi-la com vocês.

Então, vamos à carta:

"Hoje vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da FEBEM em São Paulo para outra dependência da FEBEM no interior do Estado.
Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência.
Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação, contam com o apoio de comissões, pastorais, órgãos e entidades de defesa de direitos humanos.
Eu também sou mãe e, bem posso compreender o seu protesto. Quero com ele fazer coro.
Enorme é a distância que me separa do meu filho.
Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente conto com o meu companheiro, que desempenha importante papel de amigo e conselheiro espiritual.
Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou estupidamente num assalto a uma videolocadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite.
No próximo domingo, quando você estiver se abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo...
Ah! Ia me esquecendo: e também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranquila, viu? Que eu estarei pagando de novo, o colchão que seu querido filho queimou lá na última rebelião da FEBEM.”

Sem comentários...


Crônica elaborada com base na notícia apresentada pelo Jornal Nacional - edição do dia 15/09/2009, intitulada: Bandido ganha regime aberto e foge, no Rio – “Um dos bandidos mais perigosos do Rio de Janeiro ganhou o direito de passar os dias fora da cadeia. E decidiu não voltar mais para a prisão.”
Quer saber mais? Clique no título desta crônica ou copie esta URL e cole na barra de navegação da Internet): http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL1305894-10406,00-BANDIDO+GANHA+REGIME+ABERTO+E+FOGE.html



Sobre a autora:
Edilene Ferreira Antunes de Souza nasceu na cidade de Três Lagoas (MS); porém, sempre morou no estado de São Paulo. Fez Magistério e graduação em Ciências, Matemática e Pedagogia. Foi professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental. É diretora de escola da rede pública do estado de São Paulo. Sempre gostou de ler, principalmente crônica e romance. Prefere autores que retratam a sociedade brasileira utilizando uma linguagem simples, “recheada” de ironia e bom humor. Como escritora, tem, até o momento, dois textos publicados: um artigo de opinião e uma crônica.

8 comentários:

  1. Leonice Aparecida da Silva22 de setembro de 2009 às 10:44

    Edilene,gostei muito do seu texto,é de ficar indignado com o tratamento que os bandidos recebem no nosso país.Parece que os direitos humanos só existem para eles... Abraços,Leonice

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  2. Olá Edilene, é impressionante a frieza do ser humano.Como você disse, será que realmente são "humanos"?
    Sua crônica está excelente!
    Parabéns!
    Beijos

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  3. Aparecida Elizabete G. R. de Oliveira23 de setembro de 2009 às 11:53

    Ótima crônica, ela nos faz ver como os direitos humanos protegem mais os infratores do que as vítimas dos crimes. Para a proteção de criminosos há orgãos, pastorais e toda uma proteção, inclusive da mídia, enquanto para as vítimas o que há? Parabéns.

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  4. Muito bem elaborada a crônica,é um assunto pertinente, em que toda a sociedade questiona, os "direitos humanos",da-se a impressão de que os bandidos tem mais direitos do que a vitima.
    Bjs.

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  5. Gostei muito da sua crônica!!! Que você é talentosa, eu já sabia! Mais uma triste realidade. Realmente é de ficar indignada com os absurdos, tratados com tanta irresponsabilidade.

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  6. Bom dia!!! Adorei sua crônica. Temos alguns absurdos em nossa sociedade, pois os direitos humanos protegem os infratores, e não as vítimas.Bjs

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  7. oi...gostei muito de sua crônica......... é isso aí nossos direitos ficaram perdidos e não fazemos nada para encontrá-lo, nos acomodamos, mas estamos alerta assim mesmo, não vamos deixar que nos atropelem.......somos pessoas do bem, o mal não deve nunca prevalecer......beijjjjjjjjjuuuuuuuuuuuuuuuuusssssssss

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  8. É infelizmente nossa realidade é cruel e alem da indignação o que mais me revolta é saber que dificilmente esse quadro vai mudar... Muito boa sua cronica Edilene sobre essa questao... bjs Gisele

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