quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A PEDAGOGIA DOS LAPTOPS

Priscila Kely de Souza de Oliveira

Depois da gripe suína, morte de Michael Jackson, a famosa mancada de Sarney e do recesso escolar, enfim, agora chegou a vez da escola nos surpreender. Professor e aluno trocarão seus cadernos utilizados desde que o mundo é mundo, ou melhor, papel é papel, por “Laptops”. É a tecnologia chegando de “malas e cuias” pelos portões, corredores e salas de aula da escola para se apossar de tudo. Cuidado se você for solteiro ou enrolado!
Cuidados gente! Precisamos nos prevenir dos cursos - famosos intensivos - reciclagem e aperfeiçoamento. Sem eles, a pedagogia fica só no papel. As letras já estão escritas, tudo bem. Essas, podem até passar. Já as outras, todas precisam, necessariamente, fazer os cursos. Não teremos desculpas - já está tudo dominado, mas é dominado mesmo.
Para o aluno basta o laptop. Os cadernos, canetas, lápis, lápis de cor, borracha, régua, tesoura e cola fica, agora, na papelaria. A tecnologia dará conta de tudo.
Não se preocupem com os alunos, não alfabetizados, todos terão no Word a correção ortográfica. Na internet, tem tudo, não é? Então, o dicionário, com certeza, faz parte deste tudo, também.
Mas o que faremos para desenvolver a coordenação motora e acabar com as gordurinhas localizadas? Nas aulas de Arte-Educação e Educação Física geralmente isto acontece de forma prática e prazerosa. Como isso acontecerá virtualmente?
Todos nós sabemos que tudo novo na Educação ou é 8 ou 80. Depois de muito refletir, resolvi ser 50% virtual e 50% prática. Assim, serão desenvolvidas as habilidades motoras e físicas indispensáveis ao desenvolvimento da criança ou adolescente.
Enfim, o dia era este mesmo. A aula teria que ser iniciada. Comecei pelo começo, como sempre. Expliquei aos alunos sobre os nossos 50% virtual e 50% prático.
Sem que eu tivesse terminado o assunto, já tinha um aluno com a mão levantada.
Então, perguntei:
- Você tem dúvidas?
- Pro, posso entrar no meu Orkut? Sabe, hoje, eu não entrei para ver se tinha recados novos.
Antes de o aluno terminar de falar, na sala que tem 42 alunos, 30 falavam.
- Por favor! Pro, eu também preciso muito. Você sabe que tem a fase do vício. Depois passa. Deixa a gente matá-la. Não vai custar nem um inseticida. Por favor! Por favor! Imploravam todos, em coro!
Nesse instante, resolvi propor a seguinte atividade: cada aluno pesquisará determinados conceitos em Arte, como: renascimento, realismo, expressionismo, impressionismo, abstracionismo, dentre outros. Depois de pesquisado e lido enviará para o colega, pelo Orkut. Cada um receberá o seu. Deverá ler e escrever o seu próprio conceito e as idéias principais do texto. Depois enviará ao colega novamente. A correção será feita pela professora, porém todos deverão fazer a sua parte.
A aula foi um sucesso. As trocas aconteceram de forma intensiva. Depois de alguns dias chegaram com outra nova. Dizendo:
- Pro, você viu o MSN?
- Olha, Pro, não é o “Movimento dos Sem Nada, dos Sem Noção, dos Sem Net” e outros que ouvimos por aí, não. É um jeito diferente de conversar, de forma virtual. É mais rápido que orkut! Afirmaram os alunos.
- Bom, eu já tenho o meu MSN, meus queridos! Também gosto, pois consigo conversar com todos. Perto ou longe. Qualquer dia destes faremos um teste. Depois, quero mostrar o mais novo e famoso Twister - ou será Twitter? Sei lá. Precisarei pesquisar e conhecer mais. Esta tecnologia ainda é nova. Terei que fazer outros cursos para renovar o estoque porque este já está acabando.
Isso veremos depois. Até lá o governo já terá inventado novas estratégias. Melhor esperar. Estará tudo dominado novamente...
Enfim, as aulas de Arte renderam muitos babados.

Crônica elaborada a partir da reportagem: “Alunos trocam cadernos por Laptops”, publicada em O Liberal de 08 de Setembro de 2009, Seção Cidades, pág. 06,


Sobre a autora:

Priscila Kely de Souza de Oliveira é Professora de Arte-Educação e Pedagoga, nasceu no dia 11/04/1981, na cidade de Americana – SP. Primeira filha do casal Francisco e Ducléia. Casada há 8 anos.
"Fui alfabetizada pelo método tradicional, porém sempre gostei muito de: papéis (cores e texturas diferentes), lápis de cor, tesoura, cola e outros materiais que poderiam dar possibilidades de criar algo diferente. Isso sempre me encantava e deixava-me vidrada.
Formei-me inicialmente no Magistério. Depois a Faculdade de Pedagogia. Neste meio, resolvi montar um Trabalho Final de Curso, com o tema: “Estudo de desenho de Crianças e a criatividade”. Nesse trabalho, apliquei um teste para diagnosticar a criatividade das crianças e quando esta deixa de fazer parte do desenho da criança. Essas questões me levaram a observações e análises profundas. Depois de experiências maravilhosas, resolvi ir para a área de Arte – Educação, na qual formei-me também.
Atualmente trabalho na rede estadual de ensino do estado de São Paulo. Sou professora de Arte – Educação. Leciono para turmas de 2º até o 6º ano do Ensino Fundamental I e também de EJA - 6º a 8º série do Ensino Fundamental II.
Gosto muito do que faço e também de desafios que me fazem crescer a cada dia. Um deles é o curso “A Crônica na Vida do Professor e na Sala de Aula” ministrado pela professora coordenadora: Luzia Ap. Salmaso, que me inspirou a escrever algumas crônicas, algo que, para mim, ainda é difícil."

5 comentários:

  1. Legal, Pri!
    Conseguiremos acompanhar realmente toda essa novidade? Continuaremos sendo professores ou alunos? Com certeza, eternamente alunos!
    Parabéns. Arlete

    ResponderExcluir
  2. Parabéns. As mudanças estão ai e teremos que nos adaptar e fazer cursos para acompanhar.Criatividade não lhe falta,heim!!!!!!! Ângela maria

    ResponderExcluir
  3. Priscila,parabéns pela crônica.Adorei como o tema foi abordado.Nos mostra a importância e necessidade de acompanharmos as mudanças.

    ResponderExcluir
  4. PRI,
    A ESCOLA MATARAZZO TE ADORA. VOCÊ É MARAVILHOSA! SUA CRÔNICA FICOU ÓTIMA, PARABÉNS!

    ResponderExcluir
  5. Oi,
    A tecnologia está aí, presente cada vez mais nas nossas vidas. E com voce disse, temos que nos atualizar para não fazermos feio até mesmo na frente nos nossos alunos.
    Muito bom seu texto!
    Bjs

    ResponderExcluir

Não esqueça de comentar...