quarta-feira, 23 de setembro de 2009

VAIDADE

Sílvia Elena Bondance

Coisa engraçada a vaidade, uns tem de menos, outros...demais.
Na semana passada quando fui fazer o meu segundo corte anual dos cabelos vi uma cena de pura vaidade infantil. Duas irmãs, uma de nove e outra de doze anos, faziam alisamento e ainda fariam luzes e escova nos cabelos e, pasmem, as unhas.
Perguntei à mais velha se iriam a algum evento especial, uma festa, mas a resposta foi espantosa: “ Não, toda semana nós fazemos escova e as unhas, é que hoje resolvemos alisar e pintar”.
Eu, uma mulher, de 43 anos, fiquei um pouco envergonhada, não sei se é falta de vaidade ou se sou “relaxada”, mas eu não me cuido tanto assim.
Então, pensei bem e cheguei à conclusão que não sou “relaxada”, o que acontece é que não tenho tempo suficiente para me cuidar, como deveria. Trabalhar fora, cuidar da casa, dos pais, dos filhos...
Voltei dos meus pensamentos às meninas e perguntei: “ O que sua mãe acha disso tudo?” Recebi como resposta: “Minha mãe é quem traz a gente, ela também veio pintar os cabelos. Ela acha que devemos ficar lindas, sempre.”
É, vaidade vem de berço. Minha mãe nunca me levou a salões de beleza quando eu era criança. Só duas vezes ao ano para cortar os cabelos. Nunca me deixou pintá-los ou fazer as unhas. “Isso é coisa de gente grande”, dizia ela.
Perguntei às meninas se elas não brincavam, ao que me responderam: “Sim, brincamos de ir ao shopping, fazer compras, de ser mulher grande. Que tristeza senti ao ouvir isso. E as brincadeiras de boneca, de correr, pique-esconde, cabra-cega, pular corda,... brincadeiras de ser criança.
A vaidade substituiu tudo isso. Não se fazem mais meninas como antigamente.

Crônica elaborada com base na reportagem "UNHA, CABELO E MUITO MAIS", publicada na revista VEJA, edição 2119, de 01/07/2009, págs. 130 a 133.


Quer saber mais? Acesse: http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx

Sobre a autora:
Sílvia Elena Bondance nasceu em 23/08/1966 em Americana, mas sempre viveu em Santa Bárbara d’Oeste, onde mora sua família. Fez o curso normal na EE Emílio Romi. Em 1985 ingressou no curso de Letras da Unimep- Piracicaba. Formou-se em 1989 e, nesse mesmo ano, iniciou sua carreira docente. Em 1998, após o nascimento de sua filha, começou a trabalhar como professora de inglês na EE Magui, em Santa Bárbara, onde está até os dias de hoje.

4 comentários:

  1. Sou da sua geração e também sinto falta da fase que essas crianças estão pulando. Ótima crônica, ótima observação.

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  2. tenho pena dessa geração, pois deixam passar a fase de criança e querem se tornar adultos muito cedo.

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  3. Ótima crônica. Também concordo que a fase de criança está sendo, muitas vezes, deixada de lado. Será que não vai fazer falta um dia?

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  4. Amei sua crônica,quando você disse "É, vaidade vem de berço" me identifiquei com você,comecei a pintar o cabelo depois de casada, ou seja, com 20 anos, unhas também,jamais poderia falar em tirar as cúticilas. Hoje sim sou um pouco vaidosa, embora minha vaidade não veio do berço,talvez seja por este motivo que sou "pouco vaidosa".Porém quando fala em tempo de criança, lembro de todas brincadeiras que brincava,esconde - esconde, pega-pega, pular elástico e outros.Para mim,tudo tem seu tempo,e tempo de ser criança é tempo de ser criança.

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