quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A dor da separação

Iraní Rodrigues Bandeira

Inicia-se mais uma semana, como outra qualquer. A correria do trabalho, o cuidado com a família, dia após dia. Apenas um telefonema na madrugada muda todo o curso de nossas vidas.
Nesse telefonema a triste notícia: “nossa mãe faleceu”.
Não tem muito em que pensar, apenas amanhecer o dia, pegar a estrada. Serão quatrocentos e oitenta quilômetros para pensar o que fazer a partir de agora. Um pensamento não me sai da cabeça: agora não tenho mais pai nem mãe.
Após horas intermináveis, até que enfim amanhece o dia para darmos início à nossa viagem. Viagem essa que parecia não ter fim, a pista cada vez mais longa, até o encontro com a família no velório, o carinho e o abraço dos amigos que vem nos consolar, pois a dor da separação é grande. Para minha surpresa o local encontrava-se repleto de pessoas. Algumas conhecidas, outras não.
Encosto-me na urna, como se um filme passasse em minha mente. Entre tantos os momentos que vivemos juntas lembrei-me dos mais alegres, das festas de fim de ano, nossas viagens, das compras no mercado, até mesmo das festas da escola onde ela lecionava, pois sempre que podia ela nos levava.Houve momentos tristes também em nossa caminhada, tribulações, aflições, desentendimentos, mas em nenhum deles eu respondi a ela ou tratei-a mal. Procurei em todos meus pensamentos, em minhas lembranças , mas não encontrei nada que me acusasse, que me trouxesse remorso.Fiz tudo enquanto pude, em vida.Até o mais simples: um beijo.
Por um momento parecia até que ela ainda estava respirando. Tornei a olhar. Foi apenas uma impressão. Nesses últimos anos minha mãe foi acometida por enfermidades. Muito sofreu,mas agora ela estava ali, calma e serena, como se apenas dormisse, como sei que dorme o sono dos justos e, ambas, estávamos ali, juntas pela última vez nesta vida, e em paz.



Sobre a autora:

Iraní R. Bandeira nasceu em Adamantina em 1972, trabalha atualmente na E.E.Dr. João Thienne como professora de Língua Portuguesa.

5 comentários:

  1. A perda é muito ruim, mas acredite que em Deus ela está

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  2. Essa é uma dor que infelizmente todos estão condenados a passar pois assim se sucede a vida nossos avós,depois nossos pais mas o importante é lembrar dos momentos juntos pois esses ninguem tira da gente em nossa doce lembrança...

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  3. Essa é uma dor muito difícil, mas Deus esta acima de tudo para superar-mos.

    Lice

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  4. Olá Irani,
    A perda, ou melhor a ida de alguém que tanto amamos émuito difícil de aceitar. Não deveria ser assim, pois desta vida a única coisa que temos certeza é de que iremos em algum momento, só não sabemos quando.
    Mas como você diz, ela cumpriu a parte dela e você ficou aqui para cumprir a sua e seguir o exemplo de vida que ela lhe deu.Depois de algum tempo passa a dor e fica só a saudade e a lembrança boa de ter vivido ao lado de sua mãe momentos doces e outros que ela não pode ser tão doce, teve que ser mãe e ensinar-lhe o correto.
    Fique em paz,
    beijos
    Carmen Cecilia

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  5. Irani,a morte,por mais que a aceitemos sempre nos pega de surpresa,e fica a sensãção de vazio diante da perda de um ente querido,afinal foram tantos anos de convivência, cumplicidade e afetos...
    Colocar um ponto final,mesmo que momentãneo,nesses momentos e viveres é sempre muito difícil,mas quando se tem certeza de vidas e trocas bem feitas e vividas;quando se tem paz de consciência de ter se doado,fica um pouco mais fácil dizer "até breve" para quem parte.

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