domingo, 15 de novembro de 2009

Helena (Na Vida Real)

          Helena levanta às quatro horas da manhã para pegar o ônibus das seis.
          -Pra que levantar tão cedo mulher? Tem sempre alguém que pergunta. É que ela tem que deixar o café e o almoço pronto para os quatro filhos que ficarão em casa cuidando uns dos outros. Depois vai correndo para o ponto do ônibus, entra em um coletivo que mais parece uma lata de sardinha e tem que suportar as pisadas nos calos doloridos e alguns espertinhos que aproveitam do aperto e o sacolejar do ônibus para uma esbarrada maliciosa. Na volta é tudo igual, ônibus cheio, pisadela nos pés cansados, rapazes mal intencionados, mas com um agravante: o banho e o desodorante da maioria dos ocupantes já estão vencidos.
           Essa é a vida de muitas Helenas, Marias, Clarices... Boa parte da população pobre e feminina tem jornada tripla. Trabalham antes de ir para o trabalho e depois que chegam do trabalho.
          Após um longo dia de luta Helena chega em casa e ainda tem que lavar, passar, cozinhar..., mas quando termina o jornal ela quer silêncio, pois vai começar a novela.
          Em todos os lares há aparelhos, aparelhinhos ou aparelhões. Dependendo do poder aquisitivo do cidadão, há vários espalhados pelos cômodos da casa, e no entorno dele o silêncio é a palavra de ordem, principalmente no horário nobre, quando as donas de casa, já exaustas, não têm mais forças para lutar.
         Assim acontece com Helena, para repor as energias faz um prato repleto com arroz e feijão e corre para frente da TV, essa caixa mágica que nos apresenta várias histórias e, em uma delas, Helena se faz modelo na trama de Manoel Carlos, e o prato principal é o luxo e a beleza, ambientes confortáveis e requintados, viagens para Europa, bem diferente da historia de vida da nossa Helena que, com certeza, não se vê representada na história, aliás, as novelas representam uma pequena camada da população que pode ir às compras em Paris.
         Depois da novela, Helena desliga seu pequeno aparelho de 14 polegadas, vai para o único quarto da casa onde dorme com os filhos, começa a pensar como a vida na TV é mais fácil, pois os problemas se resolvem em mais ou menos oito meses, lembra-se do seu ex-companheiro que a abandonou com quatro filhos para criar, observa os pequenos dormindo em meio aos lençóis e cobertores velhos, os pijamas são roupinhas velhas, que não dá mais para sair do quarto com elas, começa a questionar-se será que algum dia seus filhos terão acesso à beleza e ao conforto que ela viu na telinha, minutos atrás? Olha para o espelho, ri do cabelo desalinhado, apaga a luz e vai dormir.

Quer saber mais? Clique no título da Crônica.
 
Autores:
Ivone Gomes – Professora de Língua Portuguesa – E.E. Prof. Jorge Calil Assad Sallum - SBO
Edgar Lopes da Silva – Professor de Língua Portuguesa – E.E. Monsenhor Henrique Nicopelli - SBO

Cursistas: Turma B-3


8 comentários:

  1. Parabéns pela cronica, pior que é assim mesmo, quantas Helenas , Marias... vivem essa situação, me levanto as cinco e meia e sempre tem um engraçadinho que faz a mesma pergunta. Por que levantar tão cedo? É porque tenho muito que fazer deixando tudo pronto e organizado para os filhos, quanto ao ônibus,graças a Deus tenho meu carro. Abraços. profª Rosangela Cassela

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  2. A Helena da ficçao nunca é a realidade

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  3. É a realidade, triste mais è o que acontece

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  4. É UM DESCASO COM A EDUCAÇÃO...

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  5. Muito bom seu texto.
    Somos brasileiras e não desistimos nunca!!!
    Não importa se Helena, Maria, Joana, ou sei lá o quem...As mulheres são fortes o suficiente para criarem seus filhos, pagarem suas contas e continuarem batalhando.
    Nosso país é constituido por muito mais Helenas, Marias, Joanas do que de Dondocas, Patrícinhas e Madames.

    Maria de Lourdes Angelo

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  6. Somos todas Helenas, não a de manuel Carlos, mais as da vida real, com sonhos e desencantos, mas guerreiras sendo o arrimo da familia.

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  7. Realmente as Amélias foram substituídas pelas Helenas,diga-se de passagem que não há aqui nenhuma referência histórica à Tróia,muito embora essas mulheres sejam verdadeiras guerreiras e a sua beleza seja muito mais pelo seu valor interior:dignidade,compromisso,perseverança e lealdade.

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  8. Ivone parabéns pela crônica de vocês

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