Eu tenho um amigo que é doido. Não, não doido assim...desses que saem pela rua proclamando o fim do mundo, ou que babam, falam sozinhos... Ele é um doido de bastidores!
É... o cara prepara suas doidices em laboratório, imagine! Maluquices programadas mesmo, travessuras planejadas, divagações intencionalmente pensadas!
Ele é doido, mas não é bobo. Se tiver paciência e tempo de ler as próximas linhas, verá do que é capaz esse rapaz (não foi proposital esse trocadilho, tá!).
Há uns dias atrás a nossa toda poderosa detentora de serviços telefônicos deixou na mão nada menos que 11,5 milhões de usuários com mais uma sessão de apagão. E desta vez o tormento durou cerca de seis horas, impedindo importantes transações comerciais, industriais, sociais, confidenciais e tantos outros ais...
Imagine você quantos “eu te amo, juro que amo, amor!” deixaram de ser ditos? Quantos “perdoa, só mais essa vez!” “A Bete tá?” “Alô, é da rádio Clube?” “E ai Gaspar, como foi de festa?”. Imagine também quantas ligações deixaram de partir dos bancos oferecendo crédito barato com prestações para o resto da vida?! E ofertas do cartão American Express? De assinaturas de revistas? Das Associações de Amparo ao Menor Carente da Comunidade do Brejo Largado? Quantos trotes ao 190, 192, 193, 19...!
Claro que outras transações não menos importantes também tiveram paralisação, como aquele cancelamento de consulta médica, aquele aviso da mãe avisando o filhinho que quando chegar é para pegar a chave na vizinha, aquele recado do DR. Cerqueira para a esposa de que teve que viajar às pressas e assim não poderia participar da festinha de aniversário do enteado e tantas outras bobagens... digo, contatos importantes.
É, meu chapa, telefone hoje em dia é tudo, bendito seja quem inventou esse benefício para a humanidade, mas maldita seja essa companhia que anda desandando com seus fiéis fregueses, tendo que ferver a cuca para se explicar depois de situações embaraçosas, criadas com a tal “falha técnica”.
Uma nota oficial, que não chegou a ser publicada porque o presidente da prestadora, envergonhado, não permitiu, foi encontrada amassada próximo ao depósito de lixo nos fundos do prédio da empresa por um humilde trabalhador, explicava o seguinte:
“Em relação à lamentável interrupção dos serviços ocorrida na última terça-feira, temos a informar que quando uma chamada de costume foi endereçada a um determinado número de telefone de assinante para oferecer serviços da empresa, estranhamente todo o sistema ficou absolutamente travado sem poder receber ou efetuar outras ligações, o que rapidamente se expandiu para todo o estado interceptando tudo. Coisa de gênio, ou de doido. Na gravação da mencionada chamada, percebeu-se que o assinante queria se vingar da demora dos atendimentos dos nossos serviços, pois insistia em exigir da nossa funcionária toda sua documentação, números de tudo e depois demorava dizendo que estava consultando seu cadastro no sistema dele, quando voltava, exigia mais informações até que quando finalmente ouviu o que nossa relações públicas tinha a lhe ofertar, disse:
- Ah! Contratação de serviços não é comigo, aguarde que vou chamar minha esposa que é quem cuida deste departamento aqui. Não desligue por favor, sua ligação é muito importante para nós.
Depois de quase uma hora, alguém disse:
- Desculpe a demora senhorita, mas nosso sistema está um pouco lento hoje, mas a pessoa responsável já vai lhe atender, peço que continue aguardando. Daí mais uma hora, uma voz feminina pergunta:
- Mas qual é o assunto mesmo? Ah! Você quer que eu contrate mais um serviço? Não, não. No momento não estamos interessados nesta aquisição, quem sabe após o verão, tá?!?
E, assim, depois de quase seis horas de enrolação é que foi restabelecido o sistema.”
É, o meu amigo realmente é um doido sabido!
Autor: Sérgio Itamar Peres Marques é professor de Língua Portuguesa. Atualmente exerce a função de Professor Coordenador de Ciclo I, na EE. Profª Jadyr Guimarães Castro em Santa Bárbara d’Oeste.
Crônica elaborada a partir de uma notícia publicada no jornal O Estado de São Paulo, em 11 de junho/2009 página C6.
domingo, 13 de setembro de 2009
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